Juro a 10,25% tira o fôlego da indústria

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) ampliou, por unanimidade e pela segunda vez consecutiva, a taxa básica de juros - Selic -, que passou dos 9,50% para 10,25% ao ano. O aumento de 0,75 ponto já era esperado pela maioria dos analistas e criticado pelas entidades industriais. O objetivo do governo é conter o risco de inflação. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado na última terça-feira (9% em relação ao primeiro trimestre) significou um risco, na visão do BC.

 

Os sinais de que tanto a inflação como o ritmo de crescimento econômico vêm diminuindo praticamente descartaram a possibilidade de os juros fecharem o ano próximo dos 13%. O mercado financeiro espera que o BC continue promovendo altas na Selic, e estima que os juros deverão chegar ao patamar de 11,75% até o final de dezembro.

 

Até os economistas mais críticos dentro do próprio BC concordam com a escalada dos juros e a projeção definida para o ano "não poderia ser diferente". Isso porque a economia brasileira crescia, até o primeiro trimestre, a taxas anualizadas acima de 10% ao ano, índice considerado incompatível com a capacidade produtiva e de demanda do País.

 

Para Mauro Calil, professor do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil, o aumento da Selic é necessário por alguns motivos. "Na primeira reunião deste ano não houve aumento nenhum e já tínhamos indicativos de pressão inflacionária, agora o BC precisa elevar de forma mais agressiva do que quando houve a redução o ano passado. Outro motivo é que do lado do governo, em ano eleitoral, é melhor ter aumento de Selic do que aumento de inflação, que já é apontada pelos indicadores inflacionários no período anualizado em torno de 5%."

 

Na visão do presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, o aumento em 0,75% foi um exagero. "Já há um consenso no mercado de aumento de 0,75 ponto percentual nos juros, mas eu acho que é um equívoco. Não creio que o Brasil esteja caminhando para um cenário de inflação descontrolada", declarou.

 

Contudo, Silva considerou natural uma nova alta na Selic, já que em sua avaliação, toda responsabilidade sobre o controle de preços no país está sobre o BC. "Seria saudável o governo trabalhar melhor o lado fiscal para permitir que o ônus do controle da inflação não recaia totalmente sobre o Banco Central. No entanto, ninguém vai conseguir controlar o preço do minério de ferro com alta de juros", afirmou.

 

A posição da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é crítica com relação a decisão do Copom. "Mesmo contrariando opiniões, mantemos hasteada a nossa bandeira em defesa de juros mais baixos e outras reformas estruturais necessárias para o crescimento econômico do País", disse Benjamin Steinbruch, presidente em exercício da Fiesp.

 

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio) aponta que, ao promover um novo aumento da Selic, o BC renova a façanha de manter o Brasil como o detentor da maior taxa de juros do mundo. "Uma liderança que nos ofende e, efetivamente, parece contrariar todos os esforços brasileiros de assumir cada vez mais o papel de protagonista na arena econômica global, uma vez que o patamar de juros cobrado no País se torna um dos principais fatores de comprometimento da competitividade do País em relação a seus concorrentes", relata o documento oficial.

 

"Nos preocupa o fato de que o aumento da Selic, agora em dois dígitos, interfere diretamente no bom momento vivido pela economia brasileira, conforme se constatou no resultado do PIB do primeiro trimestre de 2010", afirma o presidente da Fecomércio, Abram Szajman.

 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vê com preocupação o retorno da taxa Selic ao patamar dos dois dígitos. "O BC espera que a economia brasileira cresça acima do desejável. Essa é uma avaliação equivocada", analisa a CNI.

 

Segundo os técnicos da instituição, o excepcional crescimento do PIB não deve orientar as expectativas para o restante do ano, porque os incentivos fiscais, criados para amenizar o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira, foram extintos em março. A CNI lembra ainda que o aumento do investimento foi mais intenso do que o do consumo para o crescimento da economia no primeiro trimestre. A maturação desses investimentos aumentará a capacidade de produção da indústria, o que reduzirá eventuais pressões inflacionárias no futuro.

 

Para o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef), o BC poderia ter reduzido o ritmo de alta da Selic para 0,50 pontos percentuais.

 

"O Banco Central não precisava ter mantido o ritmo do aperto monetário adotado na reunião de abril. Isso porque, caso sentisse nos próximos 45 dias que tal ritmo é mesmo necessário, ainda assim haveria tempo suficiente para que retomasse o ritmo mais agudo de altas nas próximas reuniões até o fim do ano."

 


Veículo: DCI


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