Preço baixo perde importância na hora da compra

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Com renda maior, consumidores hoje têm como prioridade experimentar novos itens e realizar a compra com maior rapidez, revela pesquisa

 

Preço baixo está perdendo importância como fator número um levado em consideração na hora de escolher os produtos nos supermercados. Ganhos de renda, inflação controlada e maior oferta de crédito começam a provocar mudanças nos critérios de consumo das famílias brasileiras nos últimos anos.

 

Quase a metade dos domicílios hoje tem como prioridade experimentar novos itens (23%) e rapidamente se livrar da incumbência de abastecer a dispensa (23%), que são os consumidores apressados. O grupo que só tem olhos para preço baixo e promoção responde atualmente por 18% das famílias, revela a pesquisa da Kantar Worldpanel.

 

Dois anos atrás a mesma pesquisa mostrava que havia um empate técnico. Isto é, tanto os consumidores focados em preço baixo como os "experimentadores" representavam 20% cada, do total de famílias. Agora os experimentadores estão ganhando terreno em detrimento do grupo que só olha preço.

 

"O consumidor não está voltado só para preço como antigamente. Hoje ele avalia a relação custo/benefício do produto. E, como mais folga no bolso, quer experimentar as novidades", afirma Christine Pereira, diretora da Kantar Worldpanel e responsável pela pesquisa. A enquete consulta semanalmente 8,2 mil lares em todo o País para traçar o perfil de compras de alimentos, bebidas e artigos de higiene pessoal e limpeza doméstica. Ao todo são mais de 100 categorias de produtos.

 

A dentista Célia Bianchini, de 45 anos, casada e mãe de dois filhos, lembra do tempo que preço era tudo nas compras de supermercado. "Preço baixo já foi mais importante", diz ela, recordando a época da inflação descontrolada e do poder de compra achatado. Hoje, como a renda melhorou, ela diz que qualidade dos produtos, rapidez e praticidade ganharam importância como critério de escolha.

 

Atualmente, Célia se dá ao luxo de comprar verduras orgânicas mesmo tendo de desembolsar mais por esses itens. Um maço de escarola cultivada pelos métodos tradicionais, por exemplo, sai por R$ 1,20. O mesmo produto orgânico custa quase duas vezes e meia a mais. "Adoro verdura orgânica: o gosto é completamente diferente. E eu não me importo em gastar um pouco mais", justifica.

 

A empresária Suely Cavani, de 56 anos, casada e com dois filhos, é outra consumidora que reconhece que a importância de preço baixo já foi maior. No período de inflação descontrolada, ela adotava várias táticas para economizar. Além de procurar ofertas, substituía marcas mais caras e reduzia as quantidades compradas de determinados produtos.

 

Hoje, no entanto, Suely se dá o direito de experimentar outros itens mais sofisticados, como geleias e chás importados. "Nem olho preço", diz a empresária. Além do aumento no poder de compra, a despesa da casa diminuiu porque os filhos adultos não moram mais com ela.

 

Sofisticação. A sofisticação do consumo nas compras de supermercados é outro resultado apontado pela pesquisa. No primeiro trimestre deste ano, o consumo de produtos básicos cresceu 5% em volume e 7% em valor na comparação com igual período de 2009. Já os itens tidos como não básicos registraram um acréscimo de 10% em volume e 16% em valor, nas mesmas bases de comparação.

 

Christine, da Kantar Worldpanel, observa que a inclusão na cestas de compras de produtos tidos como não-básicos aumentou um ponto porcentual no período. Isso significa que cerca de 500 mil famílias que não costumavam comprar iogurtes, sorvetes, salgadinhos, por exemplo, passaram a fazê-lo. Já a participação de itens tidos como básicos foi mantida.

 

A pesquisa mostra também que o consumo geral, tanto de produtos básicos e não-básicos, aumentou 13% em volume no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2009 e 15% em valor.

 

Outro dado que reforça a tendência de maior sofisticação das compras é a participação das marcas no valor da cestas de consumo. Em 2004, as marcas mais caras estavam presentes em 23% das cestas e, no ano passado, essa fatia atingiu 35%. Em compensação, a participação das marcas de médio e baixo preços diminuiu no período. Em 2004, as marcas médias respondiam por 47% das cestas e, em 2009, por 38%. As marcas de baixo preço participavam de 30% das cestas em 2004 e recuaram para 27% no ano passado.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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