A produção industrial brasileira diminuiu 1,3% em agosto em relação a julho na série com ajuste sazonal. Com esse resultado, a indústria devolveu "parte do crescimento acumulado de 4,3% nos dois meses anteriores", de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Na comparação com agosto de 2007, o setor cresceu 2%. No acumulado deste ano, a alta está em 6% (em relação a igual período do ano passado) e em 12 meses, a expansão ficou em 6,5%.
"Os setores que são mais diretamente ligados a crédito, como bens de consumo duráveis, até aqui não mostram uma desaceleração que venha disso [dos juros]. O mesmo acontece nas estatísticas de varejo. Então, o lado real da economia, até aqui, pelas estatísticas de curto prazo, não teria sofrido uma inflexão por conta da mudança da política de juros", avaliou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales. Em agosto, dos 755 produtos pesquisados em agosto, 48% registraram expansão da produção em relação a agosto do ano passado, abaixo dos 64% apurados em julho.
De acordo com Sales, a trajetória de alta da taxa básica de juros também não pode ser responsabilizada pela desaceleração da produção dos bens de consumo duráveis. No bimestre julho-agosto, o setor registrou expansão de 6,1% em relação a igual intervalo de 2007, abaixo dos 14,1% observados no segundo trimestre, em relação ao segundo trimestre do ano passado. "A desaceleração nos bens duráveis acontece porque a base de comparação no segundo semestre do ano passado é muito forte."
O comportamento trimestral, no entanto, variou pouco. Cálculos realizados pela LCA Consultores e pela Convenção Corretora apontam para o período entre junho e agosto um crescimento de 1% sobre os três meses anteriores. Na média trimestral até julho, o incremento havia sido de 1,1%. O desempenho médio em seis meses também apresenta uma variação suave, com aumento de 0,5% entre março e agosto em relação aos seis meses anteriores - no semestre até julho, o acréscimo foi de 0,6%.
"O resultado até agosto ainda é forte e importante, porque permitiu corrigir o desequilíbrio entre oferta e demanda que vinha preocupando o governo", ponderou Bráulio Borges, economista-chefe da LCA. Para setembro, a consultoria prevê aumento na produção de 9%, o que representaria avanço de 1% sobre agosto com ajuste sazonal. Se alcançado, a atividade industrial apresentará aumento de 2,5%, o que representaria uma aceleração sobre o segundo trimestre, quando a variação chegou a 0,8%. O resultado também superaria o recorde de 2,1% registrado no quarto trimestre de 2007.
O cálculo baseia-se em indicadores antecedentes. Um deles é o licenciamento de veículos da Federação Nacional de Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave), que cresceu 10% sobre agosto. No mês anterior houve queda de 14%. Outro indicador é o levantamento de estoques industriais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em outubro de 2007, observou, o percentual de indústrias que apontavam nível de estoques insuficientes chegou ao recorde de 10%, variação que foi se reduzindo e alcançou 2% em setembro.
Um terceiro indicador é o número de dias úteis. Setembro teve 22 dias úteis, três a mais que no ano passado e um a mais que agosto deste ano. "É difícil incorporar essas diferenças no ajuste sazonal. E quando a economia está aquecida, o número de dias úteis faz toda a diferença", afirmou Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, observando que este semestre terá cinco dias úteis a mais que igual intervalo de 2007 e oito dias úteis a mais que no primeiro semestre deste ano.
Se em setembro o número extra de dias úteis pode contribuir para um crescimento mais forte da indústria, em agosto, os dois dias úteis a menos contribuíram para a retração da atividade, afirmou Cláudia Oshiro, da Tendências Consultoria Integrada. Outro fator citado foi a paralisação técnica da refinaria Repar, da Petrobras, que contribuiu para a redução de 4,1% no setor de refino de petróleo e álcool.
Veículo: Valor Econômico