Segundo semestre começa sem reação

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Primeiros números de julho não indicam reaceleração do ritmo de crescimento

 


Os primeiros indicadores disponíveis sobre a economia em julho apontam para uma acomodação da atividade nos níveis registrados no segundo trimestre. Os volumes de produção e vendas permanecem elevados, mas não há sinais de retomada expressiva do ritmo de crescimento, que segue bem aquém do observado nos três primeiros meses do ano. O licenciamento de automóveis e comerciais leves e o valor exportado estão em alta em relação a junho, mas o consumo de energia elétrica e a distribuição de aço apresentam queda.

 

Uma prévia do Índice de Atividade Econômica (IAE) da LCA Consultores de julho mostra queda de 0,2% em relação a junho, mês em que o indicador já havia ficado estável na série com ajuste sazonal.

 

O IAE busca captar a evolução mensal do Produto Interno Bruto (PIB), usando informações divulgadas com frequência diária ou semanal, como licenciamento de veículos, consumo de energia elétrica, valor total de exportações e importações e trajetória do M1 (o papel moeda em poder do público e os depósitos à vista) deflacionada. Até o dia 25, o consumo de energia recuou 0,5% sobre o mês anterior, em série que retira a influência da variação de temperatura, enquanto a média diária do licenciamento de automóveis e comerciais leves até o dia 23 subiu 4,6% sobre junho. Nas quatro semanas de julho, a média do valor importado ficou praticamente estável, com alta de 0,1%.

 

"Como a margem de erro do IAE é de 0,4 ponto percentual, para cima ou para baixo, podemos dizer que a economia ficou estagnada em julho - e está assim desde maio", diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges.

 

Indicadores como a produção de veículos, a expedição de papelão ondulado e o fluxo de veículos pesados sugerem que a produção industrial de junho recuou 1,2% sobre maio, estima ele. Para Borges, a antecipação do consumo ocorrida no começo do ano, por causa da iminência do fim do IPI reduzido para veículos e eletrodomésticos, ajuda a explicar a perda de fôlego a partir de abril. "Também acabou o processo de acumulação de estoques que reforçou o crescimento no primeiro trimestre", diz Borges.

 

Alguns setores têm níveis de estoques altos, caso das distribuidoras de aço e das montadoras. O comportamento do mercado de aço ilustra como a atividade em julho manteve o movimento de arrefecimento iniciado em abril. Neste mês, as vendas caíram pelo quarto mês consecutivo, segundo estimativas do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Carlos Loureiro, presidente do Inda, acredita que julho deve fechar com 295 mil toneladas de aço distribuídas - o menor do ano. Foram 342 mil em abril, 10,2% menos que em março, quando houve o melhor resultado desde 2008. Os números voltaram a cair em maio e junho, para 320 mil toneladas mensais.

 

Loureiro aponta que os estoques da distribuição nunca foram tão altos em 2010 quanto agora. Em março, a quantidade em estoque era suficiente para 2,1 meses de vendas, abaixo da média histórica de 2,6 meses. De lá para cá, porém, houve alta significativa. Do equivalente a 2,7 meses alcançado em abril, passaram a 3,3 meses em maio e 3,6 meses em junho, devendo fechar julho em 4,3 meses.

 

"Como o ritmo de vendas era muito forte e o setor estava empolgado, nós aumentamos as compras. Como a atividade perdeu fôlego no segundo trimestre, estamos acumulando estoques", diz ele, para quem julho registrará o menor patamar de vendas - 295 mil toneladas - e o maior de compras - 405 mil toneladas.

 

O economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, tem uma visão um pouco mais otimista para o terceiro trimestre. Para ele, a recuperação de um indicador como o licenciamento de automóveis nas duas primeiras semanas de julho é consistente com uma retomada em um ritmo mais forte do que o de abril a junho. Carvalho acredita que, no segundo semestre, a atividade avançará num ritmo inferior ao desempenho excepcional do primeiro trimestre, mas acima do decepcionante registrado no segundo. Mercado de trabalho aquecido, condições de crédito favoráveis e confiança do consumidor elevada devem manter firme o crescimento, diz ele, que aposta em expansão do PIB de 7,2% neste ano, acima do 6,6% da LCA.

 

"Enquanto os números do primeiro trimestre vieram todos no azul, os do segundo, em sua maioria, vieram no vermelho", reforça José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Para Gonçalves, que está revisando seu cenário para o ano, a economia mantém trajetória de PIB acima de 6,5% neste ano, mas a desaceleração no trimestre passado deve levar o mercado a rever sua projeção para a Selic. Ele avalia que o BC deve elevar os juros de 10,75% para 11,25% ao ano na próxima reunião, e parar por aí. "Alguns analistas projetavam Selic a 13% no fim do ano, algo que já não se coloca."

 

Para Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, o segundo trimestre produziu uma "freada de arrumação", que coloca a economia nos eixos, depois de um período muito acelerado, que terminou em março. "A partir de abril, todos pararam para refletir sobre juros e inflação em alta, e um consumo menor. Esse processo ainda não acabou, por mais que os juros não devam subir tanto e a inflação fique pouco acima de 5% no ano."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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