Bens duráveis ajudam a segurar inflação

Leia em 3min 50s

Conjuntura: Preços de produtos como automóveis e televisores registram queda no acumulado do ano


 
Os preços de vários bens de consumo duráveis mostram-se bastante comportados nos últimos meses, em alguns casos registrando quedas expressivas no acumulado do ano. As cotações de televisores, por exemplo, caíram 8,94% de janeiro a julho. Até mesmo os veículos novos registram deflação de 0,26% no período, mesmo com o fim da vigência do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) reduzido em março. O tombo é especialmente forte em produtos eletrônicos - além de televisores, aparelhos de som e de DVD, microcomputadores e máquina fotográfica têm quedas consideráveis no acumulado do ano.

 

Câmbio valorizado, redução dos preços de importação e estoques excessivos - no caso de automóveis - explicam o fenômeno, segundo analistas. De janeiro a julho, os bens duráveis subiram 1,1%, bem menos que os 3,26% registrados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA). Segundo números do economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, os grupos de eletrônicos, com deflação de 4,7% no período, e de autos, com tombo de 0,5%, puxam a inflação de duráveis para baixo.

 
 
O comportamento recente dos preços de automóveis surpreendeu os analistas. Com o fim dos estímulos fiscais no segundo trimestre, a expectativa era de que haveria uma alta mais significativa das cotações. No IPCA-15, que mostra a evolução dos preços entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira do mês de referência, os veículos novos subiram 1,57% em maio e 0,04% em junho, voltando ao terreno negativo em julho, quando houve queda de 1,16%. Em 2009, os preços haviam recuado 6,8%, na esteira da redução do IPI.

 

Para Ramos, o nível elevado de estoques do setor é um fator importante para explicar esse resultado. Entre março e junho, os inventários de automóveis cresceram 57%, atingindo 318,8 mil unidades. "O segmento tenta desovar os estoques. Há notícias de feirões de automóveis."

 

O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, também vai nessa linha. "O setor está muito estocado. Talvez tenha havido exagero nas estimativas sobre a demanda."

 

Também contemplados com a redução do IPI, alguns eletrodomésticos da linha branca mostraram comportamento diverso dos automóveis. Depois do fim dos incentivos fiscais em 31 de janeiro, os preços de refrigeradores e máquinas de lavar roupa subiram, acumulando alta de 9,73% e 7,36% no ano, pela ordem. Segundo Teles, os preços desses bens subiram em grande parte porque haviam caído em 2009, em função da redução do IPI. Os refrigeradores tiveram deflação de 6,9% no ano passado. "Esse é o movimento normal. Não tenho informação quanto a estoques no setor, mas o resultado sugere condições de mercado mais equilibradas."

 

Para Ramos, a queda forte de preços de produtos como microcomputadores e televisores pode ser explicada em parte pela evolução tecnológica, que ajuda a baratear os bens. De janeiro a julho, as cotações dos micros caíram 5,08%, enquanto os aparelhos de DVDs tiveram baixa de 3,88%, sempre de acordo com o IPCA-15. "Sáo produtos que em geral têm registrado deflação nos últimos anos", diz Teles.

 

O dólar barato e sem grandes oscilações nos últimos meses contribui para o comportamento benigno dos bens duráveis, por favorecer a importação de bens finais e também de componentes, destacam os analistas.

 

A evolução dos preços de importação em dólares também ajuda a manter os duráveis comportados, destaca Ramos. No primeiro semestre, as cotações das compras externas de bens duráveis recuaram 3,6%, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). "É um fator que pode contribuir para segurar os preços desses produtos", concorda a analista Laura Haralyi, do Itaú Unibanco.

 

Ramos reduziu ontem a sua estimativa para a variação de bens duráveis neste ano, de 3,5% para 2,7%. "Espero que esse grupo suba de 0,2% a 0,3% por mês até o fim do ano", acredita ele, projetando reduções menos intensas de produtos eletrônicos daqui para frente. "Mas é possível que seja até algo mais baixo. Não acredito em deflação, mas a alta média mensal pode ser mais para 0,1% a 0,2% do que para 0,2% a 0,3%", diz Ramos, para quem as cotações de veículos podem ter alguma até até o fim do ano. Para o IPCA "cheio", ele espera uma alta de 5,3% no ano, ainda acima do centro da meta, de 4,5%.
 

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

SP restringe benefícios de acordo fiscal com ES

Depois de conceder a benesse do cancelamento dos autos de infração por pagamento de ICMS ao Espírit...

Veja mais
Projeção para inflação na capital paulista em julho cai para 0,23%

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Antonio Evaldo Comune, reduziu, ontem, de 0,25% par...

Veja mais
Fusões e aquisições no setor do consumo devem crescer em 18 meses

O ritmo das fusões e aquisições na indústria de consumo deve aumentar nos próximos 18...

Veja mais
Segundo semestre começa sem reação

Primeiros números de julho não indicam reaceleração do ritmo de crescimento   Os prim...

Veja mais
Mercado reduz projeção da taxa básica Selic para 11,75%

O mercado reduziu sua projeção para a taxa básica de juros (Selic) de 12% ao ano para 11,75%, logo ...

Veja mais
Brasileiro já pagou R$ 700 bi de impostos em 2010

Em 2009, a marca de R$ 700 bilhões foi atingida 41 dias depois, no dia 4 de setembro   Do início do...

Veja mais
IPC-S desacelera em 4 de 7 capitais e Porto Alegre registra inflação

O Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getúlio Varg...

Veja mais
FGV projeta nova deflação para índice de preços ao consumidor

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), Paulo Picchetti, disse que o panorama atu...

Veja mais
Confiança do consumidor cresce pelo 5º mês seguido

O Índice de Confiança do Consumidor), da Fundação Getulio Vargas (FGV) subiu 1,1% entre junh...

Veja mais