Copom não vê risco de alta da inflação e mantém juros básicos em 10,75%

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Sem surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 10,75% ao ano, sem viés. A decisão, que já era esperada pelo mercado, encerrou o último ciclo de aperto monetário da atual gestão. Desde abril, os juros subiram 2 pontos percentuais.

 

De acordo com o comunicado, o BC acredita que o patamar adotado na última reunião, de 10,75%, "proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação". O comunicado segue afirmando que "ao mesmo tempo em que não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo, o Copom observa a continuação do processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde sua penúltima reunião. Nesse contexto, o Comitê avalia que, neste momento, a manutenção da taxa de juros básica no nível estabelecido em sua reunião de julho proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas".

 

Essa visão já estava presente no comunicado do último encontro do Copom, em julho, quando o BC alterou o ritmo de alta, de 0,75 para 0,5 ponto. A autoridade monetária, por meio de seus comunicados, passou a reforçar a visão de que o balanço de riscos para a inflação está mais favorável, seja por uma influência desinflacionária por parte do setor externo, seja por uma desaceleração da economia brasileira e da inflação corrente.

 

A discussão agora se concentra no que deve acontecer no próximo ano. Os analistas e economistas que respondem ao Boletim Focus esperam um novo ciclo de aperto monetário, de pelo menos 1 ponto percentual, a partir de janeiro, para combater uma inflação ainda persistente na visão dos especialistas. A previsão para o IPCA de 2011 subiu nas últimas duas semanas, de 4,8% para 4,87%, acima da meta estipulada pelo governo (4,5%).

 

Com a decisão de hoje, encerra-se o quarto ciclo de alta da taxa básica no comando do atual presidente, Henrique Meirelles. Quando assumiu, em 2003, Meirelles pegou a Selic em 25% ao ano. Agora, deve deixar o comando do BC com redução de 14,25 pontos percentuais ao longo de oito anos.

 

Meirelles sempre gosta de enfatizar que na sua gestão os movimentos realizados pela autoridade monetária mantiveram uma trajetória de redução dos juros no longo prazo. Nos ciclos de alta, a taxa sempre subiu para um patamar inferior ao que estava no aperto anterior e, posteriormente, no movimento de baixa, caiu a um nível também abaixo do que estava antes do aperto.

 

O primeiro aumento foi logo após o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a Selic foi a 26,5% ao ano. A distensão começou em junho daquele ano e durou até abril de 2004, com queda de 10,5 pontos percentuais, para 16% ao ano. Novo aperto começou em setembro daquele ano e durou até maio de 2005, quando o juro chegou a 19,75% ao ano. A terceira alta foi em abril de 2008, levando a taxa para 13,75% ao ano. Em seguida, com a crise internacional, os juros atingiram o menor patamar da história, 8,75% ao ano, em julho do ano passado.

 

A ata desse encontro será divulgada na quinta-feira, dia 9. A próxima reunião será nos dias 19 e 20 de outubro. A última do ano será nos dias 7 e 8 de dezembro.

 

A manutenção da Selic em 10,75% ao ano pelo Copom não destronou o Brasil da liderança do ranking mundial de juro real. Avaliação feita pelos economistas Jason Vieira, da Cruzeiro do Sul Corretora, e Thiago Davino, da Weisul Agrícola, aponta o Brasil na liderança quando se desconta a inflação passada dos últimos 12 meses e também a projetada por igual período.

 

Considerando o desconto da inflação passada, o juro real brasileiro encerra 12 meses em 4,3%, ante média de juro negativo de 0,7% para um elenco de 40 países. O juro real do Brasil 12 meses à frente é de 5,6%, também contra a média de taxa negativa de 0,7%. Nesse caso, o Brasil está bem à frente do segundo colocado, a África do Sul, com 2,2%.

 

As posições do Brasil e do principal concorrente em juro real em 12 meses, a África do Sul, permaneceriam inalteradas caso o Copom tivesse elevado a Selic em 0,25 ou 0,50 ponto percentual, indica o levantamento feito pelos economistas.

 

No ranking de 40 economias, segue a tendência de a maioria (26) estar praticando juros negativos decorrentes das medidas expansionistas adotadas para o enfrentamento da crise financeira. Os juros negativos seguem variando de 0,1% na Suíça a 9,6% negativos na Venezuela.

 

Em juros nominais, o Brasil, com Selic a 10,75%, perde a liderança para a Venezuela, com 18,38% ao ano. Para os 40 países avaliados, o juro nominal médio é de 3,14% ao ano.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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