O número de empresas importadoras brasileiras será mais que o dobro do total de companhias exportadoras pela primeira vez no País. A afirmação consta no estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Segundo o estudo, de janeiro a julho ingressaram no comércio exterior 3.883 companhias especializadas em importação. Este valor é similar ao total de novas importadoras registradas em todo o ano de 2008 (4.214) e é quatro vezes maior do que o total de importadoras atingido entre janeiro e dezembro de 2009 (889), menor pelo efeito crítico no consumo causado pela crise.
De acordo com o vice-presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro, o mercado interno aquecido, o câmbio favorável às importações e os incentivos explicam o ritmo frenético de ingresso de novas importadoras no mercado brasileiro.
"Esse é o resultado natural de processo de internacionalização da economia", afirma o secretário de Comércio Exterior do Mdic, Welber Barral. Além do câmbio favorável às compras externas, ele aponta outro fator que explica o fenômeno: muitas empresas, como supermercados, que importavam por meio de tradings, hoje compram no exterior por conta própria.
Por ser mais fácil importar do que exportar, normalmente o número de empresas importadoras é maior. "As importações são pulverizadas, e as exportações, mais concentradas", explica o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. Mas é a primeira vez que o total de importadoras será mais que o dobro do de exportadoras. Nas contas de Castro, a expectativa é que o ano termine com um estoque de 40 mil importadoras, diante de um total de 19.200 exportadoras. De janeiro a julho, 457 empresas brasileiras deixaram de exportar.
"O número de importadoras neste ano será recorde", afirma o vice-presidente da AEB. O pico anterior foi atingido em 1997. Naquele ano, o câmbio estava abaixo de R$ 1 e o consumo doméstico estava aquecido. O ano de 1997 terminou com 37.852 importadoras. De janeiro a julho, o total de importadoras é de 31.812.
Não há informações detalhadas de quais segmentos puxam o boom de importadoras. Castro, da AEB, acredita que as novas importadoras estão ingressando no mercado externo principalmente para comprar matérias-primas e bens de consumo.
Importação recorde
Nos cálculos da Funcex, as importações totais devem somar US$ 175 bilhões. O recorde anterior ocorreu em 2008, quando as compras externas totalizaram US$ 173 bilhões. Em 2009, ainda sob o impacto da crise financeira internacional, as importações chegaram a US$ 127 bilhões.
De janeiro a agosto deste ano, os números são vigorosos. Nesse período, o Brasil importou US$ 114,423 bilhões, cifra 45,7% maior do que a dos mesmos meses do ano passado.
Pelo quarto trimestre consecutivo, as importações da indústria geral crescem e atingem recorde de 20,7% no consumo aparente do Brasil. Os resultados dos Coeficientes de Exportação e Importação (CEI) do 2º trimestre de 2010, feitos pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), reforçam a principal preocupação pela atual tendência do comércio exterior: lenta recuperação das exportações e acelerada elevação das importações.
"Da fatia que representa o aumento de 20,7% do consumo aparente neste trimestre, a produção nacional voltada ao mercado interno teve uma participação de 68%; os 32% restantes foram aproveitados pelos importados", explica o diretor do Departamento de Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, Roberto Giannetti.
Analisados 33 setores, em quase todos se observa que as importações cresceram mais do que o consumo interno - com exceção do setor de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção, que fechou o 2º trimestre deste ano com um CI de 32,5%, o que representa um recuo de 9,2 pontos percentuais Com queda mínima de 0,9 ponto percentual, o setor de produtos de madeira também apresentou recuo no CI, ao fechar em 2,1%.
Veículo: DCI