Estabilidade econômica, aumento da renda e maior competição entre empresas fazem com que muitos bens de consumo fiquem cada vez mais acessíveis
Um estudo realizado com exclusividade para ISTOÉ pelo economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), revela como a economia brasileira mudou – para melhor – na última década. Desde 2000, alguns bens de consumo apresentaram uma expressiva queda de preços. A tevê, hoje presente quase na totalidade dos lares do País, custa 40% menos do que há dez anos. Os computadores, que vêm passando por um intenso processo de popularização, estão 32% mais baratos. As máquinas fotográficas, idem. A lista é enorme (leia quadro). Os dados chamam ainda mais a atenção se forem comparados com a inflação do período.
Entre janeiro de 2000 e agosto de 2010, o índice inflacionário oficial no Brasil foi de 96,8%. Ou seja, o custo de vida subiu, mas alguns dos artigos mais almejados pelos brasileiros ficaram mais acessíveis. A pesquisa realizada pela FGV comprova o novo patamar de desenvolvimento do País. No século passado, um computador vendido no Brasil podia custar até 300% mais que o mesmo item comercializado nos EUA. Hoje, essa variação não chega a 100%. Preços proibitivos faziam com que poucas pessoas tivessem acesso aos produtos e tornavam o Brasil uma nação atrasada em praticamente todos os setores da economia.
Diversos fatores contribuíram ao mesmo tempo para que esse cenário passasse por uma profunda transformação. “Com o aumento da renda, houve uma forte alta da demanda e o resultado foram preços menores em vários segmentos”, diz Braz. A estabilidade econômica, acompanhada pelo aumento do salário dos trabalhadores, permitiu que as empresas aumentassem sua escala de produção. Como elas começaram a fabricar itens numa quantidade muito maior, puderam diminuir o preço final dos produtos – e nesse ciclo uma legião de consumidores foi beneficiada, pois passou a ter dinheiro suficiente para comprar. O processo foi impulsionado pelo aumento do crédito.
Sem pressão inflacionária, as instituições financeiras passaram a emprestar valores cada vez maiores, que seriam pagos pelos consumidores em longas e suaves prestações. Com a economia estável, mais empresas passaram a investir no Brasil, o que fez crescer significativamente a concorrência nos últimos anos. Num mercado competitivo, só sobrevive quem consegue oferecer produtos de qualidade a preços mais baixos que os dos rivais. Com tudo isso, formou-se o contexto que permitiu que os preços desabassem, conforme revelou a pesquisa da FGV. “A evolução tecnológica, a concorrência entre fabricantes e a chegada de similares importados são algumas das razões que explicam o recuo que ocorreu nos preços desses bens”, conclui Braz.
Veículo: Revista Isto É