Emergentes mantêm discurso parecido ao criticar política americana; indústria brasileira diz que China é "inimiga"
O Brasil se aproxima cada vez mais da China na chamada "guerra cambial", que opõe os interesses de países ricos e de emergentes no câmbio, motivando protestos de exportadores brasileiros e da comunidade internacional, que pressiona pela valorização do yuan.
Na reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), nos últimos dias 9 e 10, o Brasil e a China surpreenderam os demais países com discursos bastante parecidos na crítica aos países que imprimem dinheiro em vez de ajustar suas políticas fiscais -caso dos EUA.
Ambos os países também defenderam que os emergentes se protejam dos efeitos desse desajuste global: o Brasil intervindo no mercado de câmbio e a China mantendo a cotação apreciada do yuan.
Paralelamente aos debates nos fóruns internacionais, o Brasil discute o tema cambial diretamente com a China, apesar de a posição oficial do BC brasileiro seja negar qualquer alinhamento prévio. Os dois países querem desenvolver um sistema de câmbio direto entre real e yuan, sem passar pelas cotações do dólar e euro.
Nos fóruns globais, como a reunião anual do FMI, a China é constantemente pressionada a valorizar o yuan, que "pega" carona na desvalorização internacional do dólar americano e mantém-se indefinidamente competitivo no comércio global.
JUNTAR-SE AO INIMIGO
No Brasil, há uma visão no governo de que o país tem mais a perder do que a ganhar com a valorização do yuan, apesar da rivalidade dos dois países no comércio de produtos manufaturados.
A eventual flutuação da moeda chinesa poderá derrubar os preços de commodities internacionais, como minério de ferro e soja, prejudicando os produtores e a balança comercial brasileira.
A posição dúbia do Brasil, que prefere se "juntar ao inimigo que não pode combater", é duramente criticada por analistas internacionais, que acusam o país de prejudicar sua economia por conta de um alinhamento político questionável.
O Brasil perdeu sucessivos mercados internos e externos para os chineses, especialmente nas indústrias de bens de consumo e duráveis -calçados, têxtil e máquinas.
Após fracassar no FMI, o embate cambial terá um segundo round na reunião do G20 em Seul, em novembro.
O G20 reúne número maior de países emergentes e é considerado um fórum relevante para as discussões da economia pós-crise e do conserto das finanças globais.
Veículo: Folha de S.Paulo