Alimentos vão pressionar inflação até 2011

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Em outubro, item respondeu por 57% da alta de preços medida pelo IPCA, que ficou em 0,75%

 

Originada no mercado internacional e amplificada pela entressafra doméstica dos grãos, a tendência de alta dos preços dos alimentos promete não dar sossego aos índices que medem a inflação no país até o início do ano que vem. Em outubro, de novo, os alimentos foram os principais responsáveis pela alta da inflação ao consumidor.

 

O quadro de oferta e demanda global de produtos como milho, trigo e soja já sugeria que as cotações dessas commodities básicas para a produção de alimentos permaneceriam sustentadas pelo menos até dezembro nas principais bolsas globais, inclusive com o empurrão da expectativa de atrasos nas colheitas e perdas no extremo sul do hemisfério Sul, por causa do fenômeno La Niña.

 

Pois esses atrasos começam a ser confirmados e dimensionados para lavouras de soja e milho no Brasil, o que deverá, conforme analistas, enxugar a oferta doméstica de grãos também em janeiro.

 

No mundo, foram adversidades climáticas na Rússia e arredores que puseram os grãos em escalada a partir de julho, num movimento posteriormente aprofundado por produtividades menores que as esperadas nos EUA e turbinado por uma demanda mundial aquecida, puxada pela China, e por movimentos especulativos derivados da contínua erosão do dólar.

 

Nesse contexto, no Brasil o grupo alimentos e bebidas representou 57% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, segundo números apresentados ontem pelo IBGE. O grupo subiu 1,89% no mês, mais que em setembro (1,08%) e maior variação positiva mensal desde junho de 2008. Com isso, o IPCA subiu 0,75% em outubro, também mais que em setembro (0,45%). Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 5,2%.

 

"É uma característica deste ano o IPCA acompanhar de perto o comportamento dos alimentos, que estão sendo donos do comportamento da inflação", afirmou Eulina dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

 

Em análise publicada logo após a divulgação do IPCA, a LCA Consultores, que apontou alimentos e combustíveis como os maiores vilões da alta de outubro, prevê "alguma desaceleração" da tendência de aumento de alimentos e bebidas em novembro. Mas, segundo a LCA, isso não significa que a taxa não será salgada, num diagnóstico que encontra apoio nas oscilações de preços agrícolas pagos ao produtor ou praticados no atacado.

 

O IqPR, índice de preços recebidos pelos produtores agropecuários de São Paulo pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) - vinculado à Secretaria da Agricultura do Estado -, encerrou o mês passado com alta de 2,37%, ampliando a valorização acumulada em 12 meses para 33,61%. Dos 20 produtos pesquisados, apenas cinco (arroz, batata, soja, tomate para mesa e leite C) aparecem com quedas em 12 meses. Os demais apresentam ganhos, com destaque para laranja para indústria (150,39%), laranja para mesa (145,41%) e feijão (142,36%).

 

Com peso maior no prato dos brasileiros, a escalada do feijão decorre, em parte, dos baixos preços praticados em 2009, que desestimulou o plantio na safra de verão passada. No plantio da nova safra das águas, o problema foi a estiagem, mas a escassez de oferta deverá ser aliviada a partir deste mês. Mesmo assim, não há sinais de queda do IqPR em novembro.

 

Outro termômetro negativo para a inflação vem do atacado paulista de hortifrutigranjeiros. O Índice Ceagesp, que mede o comportamento de uma cesta de mais de cem produtos, subiu 2,73% em outubro, puxado por legumes (10,55%) e verduras (8,76%). "A partir de novembro as condições climáticas - altas temperaturas e chuvas frequentes - devem influenciar negativamente a oferta de legumes e verduras. Os preços nesses setores devem continuar apresentando recuperação", afirma Flávio Godas, economista da Ceagesp, em comunicado.

 

Embora concentrada em alimentos, a inflação de outubro medida pelo IPCA também mostrou reajustes em itens menos afetados pelo câmbio e que reagem à demanda interna. O índice de dispersão - que mede quantos produtos subiram - foi o maior em seis meses e indicou que 64,8% dos produtos e serviços pesquisados subiram de preço em outubro. Entre os bens de consumo, vestuário e calçados subiram, com alta de 0,89% e 1,51%, respectivamente, enquanto o preço dos automóveis novos recuou 0,15% (a quinta queda mensal consecutiva), enquanto a retração em eletroeletrônicos foi de 0,65%, a terceira seguida.

 

Veículo: Valor Econômico


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