Economista-sênior do HSBC afirma que, se nada for feito, perspectiva da inflação para o próximo ano não será das melhores
O ambiente delineado pela inflação é de pressão bastante difusa, o que faz com que a perspectiva para o próximo ano não seja das melhores se nada for feito, avalia Constantin Jancso, economista-sênior do HSBC. Em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo, o analista salienta que, se os números de inflação fossem olhados "rigorosamente", e comparados ao nível em que estavam no último ciclo de aperto monetário, seria constatado um cenário de inflação "bem mais feio do que no passado".
"Eu diria que (a inflação) já preocupa há algum tempo", completou Jancso. O IPCA de novembro, divulgado ontem, avançou 0,83%, batendo recordes. De acordo com o IBGE, essa alta é a maior mensal desde abril de 2005 e também a maior para os meses de novembro desde 2002. "Continuamos vendo bastante pressão sobre a inflação e pressão bastante difusa", afirma o analista.
Jancso projeta IPCA em 6% neste ano, levando em conta uma elevação em torno de 0,75% na variação mensal do indicador em dezembro, e vê o IPCA em 5,5% em 2011, já incorporando a hipótese de aperto das políticas monetária e fiscal. Segundo a previsão do analista, a taxa Selic deve fechar 2011 em 12,50%, ante o nível corrente de 10,75%.
De acordo com este cenário, o ciclo de aperto deve começar em janeiro do próximo ano. A previsão foi revisada recentemente e já contemplava a expectativa do HSBC em relação a medidas adicionais pelo BC, como aumento do compulsório.
Recuo. A pressão de alta dos preços de alimentos deve recuar, fazendo com que o IPCA de dezembro desacelere para 0,60%. É o que prevê a economista do Itaú Unibanco Laura Haralyi, em nota enviada a clientes. Para a especialista, a forte alta do grupo alimentos e bebidas, que contribuiu com 0,51 ponto porcentual para o IPCA de 0,83% em novembro, foi provavelmente o pico do impacto dos alimentos.
"Os próximos resultados devem captar menor inflação de alimentos, seguindo o movimento já observado nos preços ao atacado. Projetamos variação de 0,6% para o IPCA de dezembro, totalizando inflação de 5,9% em 2010", afirma a economista.
Apesar da expectativa de menor contribuição de alimentos nos próximos resultados, avalia Laura, "as pressões salariais e a elevada inflação corrente devem potencializar os tradicionais reajustes de virada de ano em restaurantes, bares, serviços e cuidados pessoais". Esta combinação deve manter a variação dos núcleos de inflação acumulada em 12 meses em alta e contribuir para uma elevação adicional da média móvel de 12 meses dos índices de difusão.
Em novembro, os alimentos já subiram menos do que o previsto pela economista do Itaú Unibanco. "A inflação ligeiramente abaixo da nossa projeção em alimentos no domicílio (2,22% versus 2,38%) respondeu pelo 0,04 ponto porcentual de diferença entre esse resultado e a nossa projeção", afirma Laura. A projeção do banco para o IPCA era de 0,87%.
Veículo: O Estado de S.Paulo