Natal de 2010 será o melhor da década

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Pacote do arrocho de crédito deve tirar R$ 2 bilhões do comércio, mas ainda assim vendas serão recordes, superando os R$ 96 bilhões

 

O recente pacote de arrocho do crédito baixado pelo governo deve tirar perto de R$ 2 bilhões do consumo no fim do ano. Mesmo assim, sustentado pelo aumento da renda e do emprego e pelo maior número de trabalhadores que estão recebendo o 13º salário, este Natal será o melhor da década. As vendas do comércio em dezembro devem atingir R$ 96,2 bilhões, segundo cálculos da MB Associados.

 

Empresários do comércio e economistas dizem que o maior impacto do pacote no comércio virá em 2011. É que as redes varejistas estão mantendo neste mês as condições de financiamento para não perder vendas de eletrônicos e itens de informática. Mais do que isso, parte dos comerciantes acredita que poderá sair ganhando. Como os financiamentos de veículos em prazos longos e sem entrada ficaram mais caros, o consumidor poderá substituir a compra do carro zero por uma TV fininha ou um notebook. Esses produtos estão na lista dos mais desejados no Natal e, normalmente, são vendidos no crediário.

 

Cálculos da consultoria mostram também que o aperto no crédito combinado com a alta da taxa básica de juros básica no ano que vem para segurar o avanço da inflação, poderão enxugar o consumo em quase R$ 20 bilhões ao longo de 2011.

 

"O Natal vai ser muito bom. O maior da era Lula em valores absolutos. Talvez pudesse ser melhor sem o pacote", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. A pedido do Estado, ele projetou as vendas reais do varejo ampliado, que incluem, além de roupas, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, veículos, motos, partes e peças e materiais de construção, para este mês e 2011, antes e depois do aumento dos depósitos compulsórios dos bancos.

 

Com o crédito crescendo na casa de 25%, a projeção inicial de Vale era que as vendas do comércio ampliado neste mês atingissem R$ 98 bilhões. Agora ele reduziu a projeção de vendas para R$ 96,2 bilhões, levando em conta que o ritmo de crescimento do crédito ao consumo diminua para algo entre 15% e 20%. Com isso, o faturamento cresce em dezembro R$ 3,3 bilhões ou 3,5% na comparação o mesmo mês de 2009.

 

"O grande desafio fica para 2011", afirma o vice-presidente comercial do Walmart, José Rafael Vasquez. Ele diz que, por enquanto, a rede registra crescimento de dois dígitos nas vendas em relação a dezembro de 2009. "Hoje a taxa está muito mais próxima de 20% do que 10%", diz, ressaltando que não mudou as condições de crédito.

 

O Magazine Luiza é outra rede que está em ritmo acelerado. A empresa fatura neste mês entre 25% e 30% a mais em relação a dezembro de 2009, considerando as mesmas lojas. Marcelo Silva, superintendente da rede, diz que as condições de crédito estão mantidas e observa que hoje, mais importante do que a taxa de juros, é o aumento do nível de emprego como motor das vendas. De toda forma, o radar da presidente do grupo, Luiza Helena Trajano, já captou mudanças. "Para 2011, como será primeiro ano de novo governo, alguma freada vai ter, mas nada que mude o pilar da economia."

 

Rodolfo França Jr., diretor da Máquina de Vendas, conta que as metas da rede para 2011 serão traçadas só depois do Natal. Por enquanto a rede mantém as condições do crediário, como taxas de juros e prazos, mesmo tendo de sacrificar margens para não perder vendas. "Vamos segurar um pouco", diz ele.

 

Na análise de Caio Ortiz, vice-presidente da Semp Toshiba, que produz TVs, o pacote de crédito que atingiu em cheio os carros pode beneficiar o seu setor, com a migração para a compra de TV de LCD e notebooks.

 

À vista. Com mais renda, confiança no emprego, o consumidor começa a privilegiar as compras à vista em detrimento do crediário. Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram que as consultas para compras com cheque subiram 18% até o dia 9 deste mês em relação a igual período de 2009. Enquanto isso, as consultas para o crediário cresceram 10,4%. Até o mês passado, o crediário crescia mais que a venda à vista. Essa inversão não reflete ainda, segundo o economista da ACSP, Marcel Solimeo, o efeito do pacote para tirar a euforia do consumo.

 

 
Veículo: O Estado de S.Paulo


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