Bens duráveis devem aliviar inflação no próximo ano

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A inflação de 2011 deve mostrar queda em relação aos quase 6% deste ano, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficando entre 5% e 5,5%, segundo a maior parte dos analistas. As cotações de serviços (como aluguel, condomínio, empregado doméstico e educação) e de alimentos e bebidas tendem a registrar alta razoavelmente acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%, ainda que os dois grupos devam subir menos que em 2010. Já os preços de bens duráveis, como eletroeletrônicos, vão continuar a dar um alívio para a inflação. Os preços administrados (como tarifas de energia elétrica e telefonia) devem avançar algo como 4% a 4,5%, acima dos 3,1% a 3,3% esperados para este ano, mas ainda assim um nível próximo do centro da meta.

 

Com peso de 24% no IPCA, os serviços vão continuar a rodar em um nível elevado em 2011, segundo o economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos. Em 2010, a alta deve ficar em 7,4%, percentual que, para ele, cairá para 6,4% no acumulado do ano que vem. O mercado de trabalho forte, com o desemprego em níveis muito baixos, abre espaço para reajustes de preços ainda salgados nesse grupo, observa Ramos. O aumento expressivo do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) neste ano, superior a 11%, deve empurrar para cima o item aluguel.

 

Um ponto positivo será o reajuste bem mais modesto do que em anos anteriores a ser concedido ao salário mínimo, diz Fábio Romão, da LCA Consultores. "Se o salário mínimo ficar em R$ 540, haverá uma perda real de 0,7%. Se o valor ficar em R$ 550, o ganho real será de apenas 1,1%, o menor desde 2003", observa, usando o INPC (que deve fechar o ano próximo a 6,5%) como deflator . Com isso, a alta de itens como empregado doméstico tende a ser mais modesta.

 

Um aumento menor do salário mínimo também implica uma alta menos significativa da massa de rendimentos no país, o que coloca menos pressão sobre os preços. Nesse cenário, os serviços deverão terminar o ano que vem com variação de 6,5%, estima Romão. Menos otimista, o economista-chefe do Banco Safrade Investimento, Cristiano Oliveira, vê uma alta de 8,2% a 8,4% para o grupo, por conta do mercado de trabalho aquecido e da influência da inflação passada mais alta, como no caso dos contratos de aluguel.

 

Se há um item em que os economistas apostam suas fichas para moderar a alta dos preços em 2011 é o de bens duráveis. Neste ano, o aumento tende a ficar próximo a apenas 1%, nível que, segundo alguns analistas, tende a se repetir no ano que vem. Ramos aposta em alta de 0,8%, e Romão, de 0,9%. O primeiro observa que os produtos eletrônicos costumam registrar deflação. No IPCA-15 de dezembro, por exemplo, os preços de TV, som e informática recuaram 3,45%, enquanto eletrodomésticos e equipamentos caíram 0,96%.


 
Além do câmbio valorizado, ajuda o grupo o fato de que há um excesso de oferta global desses bens, num momento em que a demanda por eles segue fraca. "Se não está importando deflação, o Brasil, no mínimo, compra inflação baixa com os bens duráveis importados", afirma Oliveira, que considera possível uma variação de zero a 1,5% desses produtos. A questão, observa ele, é que eles são menos de 10% do IPCA, tendo influência limitada sobre o comportamento do indicador.

 

A grande incógnita de 2011 está no grupo de alimentos e bebidas, o grande vilão da inflação neste ano, com alta na casa de 10%. Todos os analistas apostam em descompressão desses produtos - a grande dúvida é sobre a magnitude. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, projeta aumento de 8,9% de alimentos e bebidas em 2011, uma alta ainda muito forte. A demanda por commodities por parte da China, num cenário de estoques baixos, tende a manter essas cotações pressionadas, diz Ramos. Ele estima alta de 7,8% do grupo alimentos em 2011, com um IPCA de 5,5%.

 

Há, contudo, muita incerteza na projeção do comportamento desse grupo, que responde por 23% do IPCA. "Poucas coisas podem ajudar a inflação no ano que vem, e talvez a grande surpresa possa ser durante algum tempo o próprio vilão deste ano, os alimentos", reconhece Vale. "Já começa a haver uma volta desses preços nos dados mais recentes e podemos ter um começo de ano mais tranquilo para o grupo, mesmo considerando os in natura mais pressionados em janeiro e fevereiro", acrescenta.

 

Romão tem uma visão mais otimista sobre os preços de alimentos de bebidas, acreditando que a alta em 2011 será de 5,6%. Ele observa que, entre o fim de 2009 e o começo de 2010, o volume de chuvas no Brasil ficou 42% acima do que normalmente se registra, um fenômeno que contribuiu para a disparada dos alimentos no início deste ano. É algo difícil de se repetir em 2011.

 

"Além disso, as prévias dos IGPs já começam a apontar deflação na carne bovina no atacado, o que pode aparecer no varejo em janeiro. " Essa estimativa de uma alta mais moderada dos alimentos é fundamental para explicar por que Romão tem uma projeção de 4,7% para o IPCA em 2011, abaixo dos 5,29% estimados pelos economistas ouvidos semanalmente pelo BC. No IPCA-15 de dezembro, o feijão carioca, o tomate e a melancia tiveram quedas expressivas.

 

Outro motivo para a diferença entre as estimativas de Romão e da maior parte dos analistas está nas previsões para os preços administrados. Vale, por exemplo, acredita que esse grupo, que tem peso de 30% no IPCA, vai subir 4,3% no ano que vem, 1 ponto percentual a mais do que os 3,3% estimados para este ano. "Isso vai ocorrer em parte pelo próprio carregamento da inflação mais alta de 2010", afirma ele, que aposta num IPCA de 5,3% em 2011.

 

Romão, por sua vez, acredita que os preços administrados vão subir 3,8% no ano que vem, depois de avançar 3,1% em 2010. Ele lembra que, nos últimos anos, diminuiu bastante a correlação entre os IGPs e os administrados. Além disso, haverá revisão tarifária de concessionárias de energia elétrica em 2011, o que pode levar à queda de algumas tarifas. "E licenciamento e emplacamento de veículos também podem ter um comportamento favorável, já que um parâmetro importante para esse item é o preço do automóvel usado, que registrou deflação em vários meses de 2010."

 

Veículo: Valor Econômico


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