Sob efeito das medidas, juros à pessoa física sobem

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As taxas de juros às pessoas físicas já subiram em dezembro em resposta ao maior requerimento de capital para operações acima de 24 meses e também pelo aumento do compulsório, que restringiu a liquidez na economia. Comparando os dois últimos rankings do Banco Central (BC), os custos nas operações de crédito pessoal passaram de um intervalo de 1,11% a 26,21% ao mês, na coleta entre 26 de novembro e 2 de dezembro, para 1,13% a 26,40%, no período de 3 a 9 de dezembro - considerando-se a taxa final, que inclui encargos operacionais e fiscais. Na aquisição de veículos, saíram de 0,86% a 9,08% para 1,12% a 9,22% ao mês.

 

Com o encarecimento do dinheiro, as regras podem ter um efeito adverso sobre a inadimplência, pelo menos num primeiro momento. No outro lado da balança, porém, está a recente aprovação do Cadastro Positivo pelo Senado, que tem o objetivo de reduzir o custo para os tomadores com bom histórico de crédito, diz o professor Aquiles Rocha de Farias, do IBMEC-DF. Para ele, ao se instituir um birô com informações positivas, pode-se compensar um eventual aumento dos atrasos nas carteiras de pessoa física, porque as taxas tendem a cair para os bons pagadores.

 

Com o mercado todo operando com prazos menores, o gerenciamento do risco nos modelos estatísticos adotados pelas instituições também fica mais afinado e isso tende a melhorar a qualidade dos ativos no sistema no decorrer de 2011, destaca o diretor de crédito do Banco do Brasil (BB), Walter Malieni.

 

Ao estimular maior entrada na aquisição de veículos e menor uso do rotativo do cartão de crédito, o governo está instituindo na marra um instrumento de educação financeira, diz o consultor Mauro Calil, da Calil & Calil. "É muito comum ver o consumidor se enrolar justamente no financiamento de veículos, no consignado e no cartão", diz. "Ele compra o carro novo e depois se esquece que tem que pagar seguro e IPVA." No que toca esse segmento, ele acha que, além do estímulo à entrada maior, o governo deveria limitar o número de parcelas a 60 prestações.

 

A facilidade do consignado, dada ao contingente de aposentados e pensionistas, continua, virou uma história triste porque os beneficiários se habituaram a emendar uma operação na outra, comprometendo a renda por um longo período para gastos de primeira necessidade como remédios e convênios médicos.

 

Foi assim com o aposentado Elan Rodrigues de Souza, de 75 anos, que se esforça para listar as instituições em que contratou operações de consignado nos últimos anos: Caixa Econômica Federal, Banrisul, BMGe Cacique. Com dívidas que calcula em R$ 7,8 mil até 2015 e uma renda mensal de pouco mais de R$ 1 mil, ele se enrolou. O crédito virou renda, eu me perdi."

 

No cartão de crédito, não é de hoje que a bola de neve do rotativo fatalmente resulta em inadimplência, que é a mais alta do mercado, com taxas acima de 20%, considerando-se só o montante em cartão que efetivamente virou crédito. "Quando o portador paga o mínimo, ele tem, automaticamente, todo o seu limite renovado", explica Calil.

 

O especialista considera que as medidas chegaram em boa hora, num momento em que as operações às pessoas físicas vinham crescendo rapidamente, roubando espaço da renda para se avançar no crédito imobiliário, ainda incipiente na economia. (AC)

 

Veículo: Valor Econômico


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