BC projeta aumento de juros já no início de 2011

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Relatório reforça risco de descompasso entre oferta e demanda

 

O Banco Central (BC) elevou o tom no seu principal documento de avaliação periódica sobre a economia brasileira, o Relatório Trimestral de Inflação (RI), e praticamente garantiu que haverá um ciclo de aperto monetário no início de 2011. De acordo com a autoridade monetária, o balanço de riscos para a trajetória dos preços se deteriorou desde a última análise, feita em setembro, e as novas projeções sugerem a "necessidade de implantação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros."

 

O texto do relatório é bastante direto e removeu eventuais dúvidas que pairavam sobre os próximos passos do BC. Na semana passada, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, o BC já havia alertado para uma piora no balanço de riscos, mas ponderações feitas ao longo do documento sobre os impactos das medidas macroprudenciais de restrição ao crédito foram interpretadas por parte do mercado como um indício de que a alta de juros poderia ser adiada ou até descartada.

 

A citação da ata que causou controvérsia dizia que "a depender das circunstâncias, ações macroprudenciais podem preceder ações convencionais de política monetária". Até para evitar novas interpretações dúbias, esse trecho não foi repetido no Relatório de Inflação.

 

A mensagem que o BC quis passar na ata, de que o risco aumentou, permaneceu, mas a linguagem adotada no Relatório de Inflação foi mais dura. O BC enfatizou que já existem efeitos secundários do choque de ofertas vindo do mercado externo de commodities, especialmente nas expectativas, que se deterioraram nas últimas semanas. Como consequência, todas as projeções de inflação feitas pelo BC para 2011 apresentaram piora e se situam acima do centro da meta de inflação, de 4,5%.

 

Um trecho do relatório sobre as projeções do BC para a inflação é contundente: "Importante destacar que, no regime de metas para a inflação, desvios em relação à meta, na magnitude dos implícitos nessas projeções, sugerem necessidade de implementação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como de reforçar a ancoragem das expectativas de inflação."

 

A expectativa para o IPCA de 2011 já está acima do centro da meta mesmo considerando um aperto monetário de 150 pontos básicos, previsto no Boletim Focus. A projeção para o índice no cenário que considera essa elevação da Selic e câmbio também mais elevado (R$ 1,75), passou de 4,6% para 4,8% no fim de 2011. Para 2012, está em 4,5%. No cenário de referência, com Selic e câmbio constantes, o IPCA passou de 4,6% para 5%. Para 2012 está em 4,8%.

 

O diretor de Política Monetária, Carlos Hamilton Araújo, em entrevista coletiva para divulgação do relatório, ponderou que em um cenário intermediário, que considera aumento de 150 pontos base, mas mantém o câmbio constante em R$ 1,70, a inflação se situaria apenas "ligeiramente" acima do centro da meta. Além de ressaltar o peso dessa variável para a economia brasileira, essa projeção indica que um aperto dessa magnitude pode ser suficiente em um cenário de câmbio apreciado.

 

O BC ressaltou que as projeções levam em conta os efeitos das medidas de recomposição do recolhimento compulsório das instituições financeiras. O mercado estima que elas tenham um efeito equivalente a uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic. As demais decisões de restrição ao crédito ainda não foram quantificadas pelo BC, mas o impacto em termo de política monetária deve ser da mesma ordem. Até por conta desse efeito na demanda agregada decorrente das medidas tomadas em dezembro, o BC preferiu o gradualismo e deixou o aperto nos juros apenas para janeiro.

 

De acordo com Araújo, a inflação se acelerou nos últimos meses em grande parte pela influência dos preços de alimentos, tanto pelo impacto dos preços das commodities internacionais quando de problemas pontuais na safra doméstica. Mas ele ressaltou que "não é só isso". Segundo ele, o crescimento da absorção doméstica é bastante elevado e existe um descompasso dessa expansão, que deve chegar a 10% neste ano, e a capacidade de expansão da oferta.

 

Veículo: Valor Econômico


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