Com o agravamento da crise financeira internacional nas últimas semanas, as previsões para o crescimento em 2009 se tornaram bastante incertas. A expectativa é de que haverá uma desaceleração considerável em relação aos pouco mais de 5% esperados para este ano, mas há hoje um grau elevado de divergência entre as projeções. Se houver uma solução razoavelmente ordenada da crise, alguns analistas consideram possível que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça algo entre 3% e 3,5% no ano que vem.
As estimativas mais pessimistas, por sua vez, apontam uma expansão próxima a 2%, associadas em geral a um cenário em que a turbulência externa não diminui e os países desenvolvidos passam por uma recessão profunda e prolongada. Há quem acredite, porém, numa expansão dessa magnitude mesmo com uma relativa normalização do cenário internacional.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, passou a trabalhar com dois cenários depois da piora da crise. No cenário básico, o crescimento fica em 3,5% em 2009. "Isso considera uma contaminação pequena da crise internacional, com efeito positivo sobre a inflação, já que haveria uma queda dos preços de commodities que tenderia a compensar o câmbio um pouco mais desvalorizado."
Para ele, se o dólar ficar entre R$ 1,85 e R$ 1,90 no fim do ano não haverá uma pressão inflacionária preocupante. Com isso, não seria necessário que o Banco Central (BC) desse uma puxada adicional nos juros. O investimento cresceria 7% em 2009, bem abaixo dos 13,2% esperados para este ano, mas o dobro do avanço do PIB. O consumo das famílias também teria um desempenho razoável, de 4,5%, Para este ano, ele projeta 6,3%.
Vale também elaborou um cenário caso a crise piore e se arraste até o fim do ano, o que parece menos provável depois da reação dos mercados no começo desta semana, mas está longe de ser improvável. Nesse caso, o PIB cresceria 2,3%, com forte desaceleração do investimento, para 2,5%. "O câmbio fecharia o ano muito pressionado, bem acima de R$ 2, caindo gradualmente para cerca de R$ no fim do ano que vem." Esse cenário poderia levar o BC a aumentar ainda mais os juros, levando a taxa Selic a termina 2009 em 16,25%. Hoje, a taxa está em 13,75%.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, também trabalha com dois cenários. No básico, o PIB cresceria 3,7% em 2009. Nessa hipótese, o câmbio fica relativamente comportado e o crédito é parcialmente destravado, o que permite uma desaceleração moderada da expansão do investimento e do consumo das famílias.
No entanto, caso a turbulência internacional demore a cessar e a economia global seja duramente atingida, o PIB brasileiro tenderia a crescer 2,1% em 2009. "Nesse quadro, o investimento é que mais sofre, encolhendo 1,9% em relação a 2008", afirma Borges. Haveria uma contração do crédito para as empresas, os bens de capital ficariam mais caros por causa do câmbio e a confiança dos empresários ficaria bastante abalada, diz ele.
Para Vale e para Borges, é possível que prevaleça um cenário intermediário: o crescimento não seria tão magro como 2,1% ou 2,3%, mas tenderia a ficar abaixo dos 3,5% e 3,7% que aparecem no cenário básico dos dois. Vale considera bem vindas as agressivas reduções do compulsório promovidas pelo BC, que podem totalizar R$ 160 bilhões, mas diz que não se sabe se os recursos de fato vão circular no sistema financeiro. Há o risco de que alguns bancos continuem a segurá-los.
Para Dirceu Bezerra Jr., fundador da Rosenberg & Associados, a decisão do BC foi na direção correta, mas a medida tende mais a tornar o cenário "menos ruim" do que a promover uma melhora expressiva do crédito. Em relação às perspectiva para o crescimento, Bezerra é bem mais pessimista do que Vale a Borges. Para ele, mesmo uma saída não catastrófica da turbulência afetará bastante o Brasil em 2009, com o crescimento ficando na casa de 2%.
Segundo ele, o mundo pós-crise terá muito menos crédito, já que os bancos terão muito menos capital, e as economias desenvolvidas deverão enfrentar um período longo de baixíssimo crescimento. Com isso, haverá uma redução significativa dos fluxos de recursos para o Brasil. O país deverá exportar menos, por causa da queda das commodities, o dinheiro para renda fixa e ações tendem a murchar, num quadro de menor liquidez internacional, e os investimentos estrangeiros diretos também podem diminuir. "Não há como a oferta de capitais de longo prazo para investimentos e de crédito não ser afetada. Os juros devem subir, os prazos devem cair e os bancos tendem a ser mais seletivos."
A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, é mais otimista que Bezerra. Ela deve revisar a sua projeção de 3,8% para a casa de 3,2%. Para Marcela, o investimento deve crescer algo como 5% no ano que vem e o consumo das famílias, 4%, num quadro em que a crise pára de piorar.
Veículo: Valor Econômico