Fundo de pensão, acionista da empresa, pretende pedir também ressarcimento pelo prejuízo
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, acionista minoritária da Sadia, com participação de 7,32% no capital social, quer responsabilizar judicialmente os administradores da empresa pelas perdas de R$ 760 milhões em operações de derivativos cambiais. O fundo pretende propor também um pedido de ressarcimento aos acionistas dos prejuízos causados pela operação.
No último dia 6, a Previ enviou carta ao conselho de administração da empresa exigindo a convocação, no prazo de oito dias, de uma assembléia geral de acionistas (AGE) para deliberar sobre o assunto. Nem o fundo nem a empresa se manifestaram oficialmente sobre o assunto ontem. Fontes informaram que a Previ propõe também a contratação de uma auditoria especial para analisar a operação - a direção da Sadia informou esta semana ter contratado a KPMG.
Na carta, a fundação destacaria o fato de a aposta cambial da Sadia ter exposto a empresa ao risco de um ano de receita, quando, pelo que determina o estatuto, o limite máximo de exposição seria de seis meses.
Pela Lei das Sociedades Anônimas, os acionistas detentores de, no mínimo, 5% do capital total da companhia podem pedir a convocação de assembléia. A primeira etapa é solicitar a reunião para a empresa, e os oito dias estipulados na carta correspondem ao prazo definido pela legislação para fazer a convocação.
Caso a Sadia não atenda o pedido, o acionista pode diretamente convocar a assembléia. Desde que a empresa anunciou, em 25 de setembro, o prejuízo milionário por conta da exposição ao câmbio, as ações preferenciais (PN) da empresa já despencaram 51,71%. Em um mês as perdas são de 56,15% e, em 12 meses, de 60,44%.
O diretor-financeiro da companhia, Adriano Ferreira, foi demitido simultaneamente ao anúncio das perdas, mas a medida não acalmou os investidores. Na última segunda-feira, o ex- ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan voltou à empresa, depois de seis anos de afastamento. Passou a presidir o conselho de administração no lugar de Walter Fontana Filho, que renunciou ao cargo.
Na carta, a Previ teria chamado a atenção para o fato de o conjunto dos acionistas da empresa não ter conseguido ainda fazer uma análise da situação financeira atual da companhia. Também foi destacado o fato de que as perdas resultantes da liquidação antecipada de operações no mercado financeiro foram relativas a atividades não-operacionais.
A Sadia é líder do segmento de carnes e de alimentos prontos do País, seguida pela Perdigão - que tem a Previ como principal acionista individual, com 14,1% do capital total. Em julho de 2006, a Sadia fez uma oferta hostil para a compra do controle da Perdigão, por R$ 3,7 bilhões. A oferta foi rejeitada, depois de uma ação nos bastidores dos fundos de pensão que participam do capital da empresa, apesar do controle pulverizado. Além da Previ, Petros (Petrobrás), Valia (Vale), Sistel (antigo sistema Telebrás) e Real Grandeza (Furnas) também estão na Perdigão.
Além da Sadia, a Aracruz também comunicou ao mercado perdas com apostas na desvalorização do dólar frente ao real. A empresa, maior fabricante de celulose branqueada do mundo, informou uma perda potencial de R$ 1,95 bilhão. A Previ também tem participação acionária na Aracruz, mas abaixo do que é exigido pela legislação para convocar uma assembléia de acionistas. Segundo fontes, o fundo estaria em negociações com outros minoritários para chegar ao mínimo estipulado para fazer a exigência.
Veículo: O Estado de S.Paulo