Para economistas, alta do dólar deverá conter demanda interna

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A crise americana já aportou no Brasil. Economistas reunidos ontem no seminário "Recessão x Inflação", promovido pelo Valor, discutiram os efeitos da desvalorização cambial que atingiu a economia brasileira no rastro da turbulência dos mercados. Apesar de divergirem sobre os remédios a serem ministrados para evitar efeitos negativos sobre a inflação, eles concordaram que a alta do dólar não será explosiva, como aconteceu em 2002, às vésperas da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas será suficiente para alterar o patamar médio do câmbio, obrigando o governo a tomar medidas para conter a elevação dos preços e promover um ajuste na demanda interna. 

 

O economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman, que trabalha com um cenário de recessão mundial prolongada por conta da forte retração do crédito global, defende um aperto monetário maior da parte do Banco Central para evitar uma escalada inflacionária em meio à crise internacional. A seu ver, o ajuste monetário será necessário porque não há espaço para um ajuste fiscal no ano que vem. Pelo contrário, crê que em 2009 a política fiscal será mais expansionista ( véspera de eleição presidencial). 

 

Schwartsman prevê ainda que um patamar mais elevado do câmbio vai reduzir a dívida pública e encolher a demanda doméstica, já que diminuirá as importações. "Não haverá condições de sustentar uma demanda doméstica crescendo a 8% neste novo nível de câmbio", avisa. O Santander ainda projeta uma taxa de crescimento de 3,5% e uma inflação de 4,5% para o país em 2009, mas o economista-chefe do banco já aposta que "no ano que vem o país vai crescer menos e terá inflação mais alta". 

 

Para os economistas Carlos Langoni, ex-presidente do BC e mediador dos debates, e Fábio Giambiagi, do BNDES, o ajuste monetário é importante, mas não descartam medidas fiscais para evitar uma subida da inflação por causa do câmbio. Langoni acredita que o BC poderá reduzir a o ritmo de aumento dos juros na próxima reunião do Copom, em 28 de outubro, já que a autoridade monetária só vai ter idéia do impacto da crise sobre o Brasil depois de conhecer os dados de setembro sobre o desempenho da economia brasileira. No mês passado, a crise financeira internacional atingiu seu ápice. Langoni, que é o atual diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, acha que o governo pode aproveitar para cortar "gordura fiscal" reduzindo gastos ou aumentar sua meta de superávit. 

 

Giambiagi e Langoni acreditam que a próxima reunião do Copom será uma das mais difíceis para o BC por conta das incertezas sobre a profundidade da crise. O economista do BNDES, entretanto, recomendou algumas medidas fiscais de cortes de gastos do governo para aplacar possíveis efeitos negativos da crise. Entre elas, aumentar o superávit primário para 4,5% do PIB, criar uma regra para aumentar o salário mínimo que não impacte tanto as contas da Previdência (" aumentos diminutos") e aprovar um teto para despesa de pessoal. 

 

Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o mais otimista no debate sobre os rumos da inflação num ambiente recessivo. Ele disse que a trajetória atual dos preços é de queda por causa da redução das cotações das commodities agrícolas e metálicas e do recuo do preço do petróleo, que, a seu ver, não retoma mais os níveis superiores a US$ 100. Este quadro de retração dos preços, diz Quadros, está aliado a um movimento espontâneo de retração da demanda doméstica, o que vai evitar um repique inflacionário. Para ele, o pior da inflação já passou. 

 

O economista da FGV, que lida com os IGPs, dividiu o comportamento da inflação este ano em dois tempos: a alta de preços ocorrida em meados do primeiro semestre, alimentada pela subida forte dos alimentos e das commodities, incluindo o petróleo, e agora uma nova ameaça através do câmbio. "Isso vai depender da trajetória do câmbio, que a meu ver não tem fôlego para se transformar numa trajetória ameaçadora para a inflação." Quadros não descarta, porém, uma política de juro mais apertada da parte do BC para se contrapor à pressão cambial. Para ele, a política monetária faz mais efeito sobre a inflação do que a fiscal. 

 

Mário Mesquita, diretor de política econômica do Banco Central, presente ao debate, evitou se pronunciar sobre o assunto, limitando-se a repetir palestra dada semana passada em Brasília, depois de ouvir as opiniões dos economistas. A apresentação de Quadros, enfatizando a tendência atual de queda dos preços face à forte retração das cotações das commodities metálicas e agrícolas e do recuo do preço do petróleo, impressionou muito os técnicos do BC presentes ao evento, apurou o Valor. Mesquita optou por sair sem falar com jornalistas.

 

Veículo: Valor Econômico

 


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