Desaceleração do crédito deve interromper alta de juros

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Retração da economia exigirá a revisão da política monetária, defendem economistas

 

A crise financeira global chegou ao Brasil e já modificou a situação da economia real com o encolhimento dos canais de crédito. A reviravolta, ainda pouco nítida para as pessoas, fez os interlocutores do mercado, antes preocupados com a inflação, começarem a defender a interrupção do processo de alta dos juros pelo temor de que a economia não só desacelere como entre em fase de deflação dos ativos reais e financeiros.

 

“A economia brasileira vai ser desacelerada e será preciso repensar a estratégia de juros”, disse, no fim da semana, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa. “Não podemos continuar lutando na guerra anterior”, disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, se referindo ao aperto monetário promovido pelo Banco Central para conter a inflação no Brasil.

 

Para os analistas, é possível que já tenhamos sofrido uma forte contração de liquidez na economia nos últimos dias e, nessas circunstâncias, um novo aumento da taxa de juros poderia aprofundar a crise. Trocando em miúdos, o que muitos economistas estão tentando argumentar é que os tradicionais modelos de determinação dos juros, com base na oferta e demanda de bens e serviços, não funcionam em momentos de crise como a atual, em que os agregados monetários e o crédito têm brusca oscilação e alteram o equilíbrio da economia.

 

Se os bancos, com medo do cenário externo, começam a cortar as linhas de crédito interno para as empresas e famílias e se refugiam em títulos da dívida pública, a economia precisa de mais e não de menos moeda em circulação. Caso contrário, corre risco de estrangulamento, com paralisia da produção e pressões deflacionárias - ou seja, redução de preços e não só de bens comercializáveis, mas também de ativos.

 

De certa forma, isso já vinha se manifestando na Bolsa de Valores, com as ações das empresas derretendo, mas seus impactos na economia real não eram sentidos até a semana passada, quando a Câmara dos Estados Unidos rejeitou a primeira versão do governo.

 

Para a maior parte dos leigos, é difícil entender o que está acontecendo no mundo e seus riscos para o País porque, em primeiro lugar, a economia brasileira vinha navegando de vento em popa. Em segundo lugar porque a economia mundial não vive uma situação tão grave desde o crash de 1929, em que muitos investidores se suicidaram diante das fortunas que perderam da noite para o dia.

 

“Vamos ter uma recessão global mais intensa do que foi antecipado. Os dados já indicam que já começou uma desaceleração razoavelmente forte e os bancos começaram a restringir crédito ao consumo. Isso tudo é muito rápido”, avalia Belluzzo.

 

O economista Fernando Montero, da Corretora Convenção, acredita que a chave do problema é a reação dos bancos à crise externa. Essa resposta é importante porque o sistema financeiro não é mero intermediário de dinheiro, mas veículo de mobilização de capital para a produção e o consumo. “Dependendo de como os bancos reajam, a duração e intensidade da crise podem ser bastante diferentes”, diz Montero.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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