O comércio brasileiro está dividido com os impactos da crise, que acabam de mudar o cenário no setor, na prática. Economistas dão como certa a desaceleração de crescimento no setor, de 15% para pouco mais de 10% este ano, mudando a curva de ascensão vista até então. Com o cenário econômico mundial em polvorosa, e com a expectativa, para 2009, de redução ainda maior do crescimento, as empresas parecem divergir. Algumas batem o pé e garantem a manutenção dos investimentos previstos, enquanto outras declaram abertamente que se viram obrigadas a rever os planos para 2009.
Uma das que passarão a manter o freio de mão puxado por tempo indeterminado é a Cooperativa de Consumo (Coop), que atua na região da Grande São Paulo e interior paulista, e está no 11º lugar no ranking do setor no País. Por estar atenta ao anúncio de que o setor galgará aumento de apenas 2% para o ano que vem, seguindo os passos da previsão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2009, que deverá ser incrementado em apenas 3,5% frente a este ano, a empresa viu que era hora de rever metas com mais cautela.
Segundo Marcio Valle, vice-presidente da Coop, a companhia definirá no decorrer deste mês seu orçamento para 2009, e por causa da projeção do PIB para o Brasil divulgada ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), será obrigado a fazer ajustes nas metas. "Trabalhávamos com o PIB a 3,7% e a inflação em 4,75%. O ideal era contar com um crescimento de 5%, que implicaria em aumento na renda da população", diz Valle. Ele aponta que um PIB menor pode significar desemprego, situação crítica para o comércio.
Este ano, a rede espera faturar R$ 1,2 bilhão, o que significa alta média de 10% em seus ganhos. A respeito do ritmo de abertura, mesmo com temor quanto ao desempenho do mercado ano que vem, a empresa pretende manter a abertura de cinco lojas - duas já em construção. "A expansão em 2009 será mais acelerada. Investiremos em média R$ 40 milhões com recursos próprios", afirmou.
Conjuntura
O professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Juracy Parente indica que a crise internacional será refletida nas categorias do comércio que dependem mais de crédito (autos, eletroeletrônicos e itens de luxo). "Foi acesa a luz amarela, principalmente para esses segmentos, cuja expansão é atrelada à concessão de crédito", analisou Parente. O especialista falou a empresários e executivos durante o "1º Congresso Latino-Americano de Varejo", evento realizado esta semana em São Paulo.
Como a tendência é a oferta de crédito retrair-se perante momentos de instabilidade econômica, o professor da FGV crê que as empresas reajustem as parcelas de acordo com o porte da companhia. Este é, por exemplo, o caso da segunda maior varejista de eletroeletrônicos e móveis do País, o Ponto Frio, que reduzirá a oferta de produtos parcelados em até dez vezes sem juros e aumentará os juros no carnê para preservar o fluxo de caixa.
Atacado
Na área atacadista, o líder do segmento Makro, com faturamento de R$ 4,6 bilhões ano passado, é uma das empresas que garantem manter os planos para 2009 - assim como fez há algumas semanas a supermercadista norte-americana Wal-Mart -, sendo previsto um aporte de R$ 240 milhões para expansão. "Nossos investimentos não vão sofrer alteração, mas sabemos que poderá ocorrer retração no consumo, que afetará os pequenos e médios varejistas, o nosso principal público", explicou Rubens Batista Junior, que passou a comandar a operação brasileira do Makro há quase seis meses.
Este ano, o braço atacadista da holding holandesa SHV, prevê atingir 65 pontos-de-venda em 22 estados, com aporte de R$ 200 milhões. Nos próximos quatro anos, a meta é chegar a 100 lojas, dez delas programadas para 2009. A empresa também vai acelerar a abertura de postos de gasolina com a marca Makro, conforme antecipado pelo DCI. Mais 14 unidades até o final do ano que vem virão totalizar 40.
Boa parte dessas novas lojas será instalada em cidades com cerca de 300 mil habitantes. Apesar do clima de incerteza em terras brasileiras, por conta do cenário externo, Batista Junior diz que vê oportunidades no momento de crise. "Manteremos a quantidade de parcelas em seis vezes, enquanto nossos concorrentes as vão reduzir. Assim, a competição será apenas por preço", ressaltou Batista Junior.
Veículo: DCI