O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) voltou a subir em setembro, depois de ter registrado em agosto a primeira deflação desde o começo de 2006. O índice subiu 0,36% no mês passado, depois de ter recuado 0,38% em agosto, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Mesmo diante da alta, o economista Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, não enxerga um cenário de disparada da inflação. "A deflação de agosto é que era situação excepcional. A variação de 0,36% não é um problema, é razoável", afirma. "Ela aconteceu em um momento especial. Agora a configuração mudou, porque no IGP-DI de setembro, o efeito do câmbio ainda foi menor do que o efeito das commodities", explica o economista.
Entre os componentes do IGP-DI, o Índice de Preços por Atacado (IPA) subiu 0,44% em setembro, depois de ter cedido 0,80% em agosto. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), por sua vez, caiu 0,09%, ante alta de 0,14% em agosto. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) teve alta de 0,95%, seguindo o avanço de 1,18% no mês anterior. No ano, o IGP-DI acumula alta de 8,3%. Nos últimos 12 meses, o avanço foi de 11,90%.
Diante desses dados, se não dá para apostar em uma tendência para os próximos meses, é possível garantir que os efeitos do câmbio virão. "A dificuldade de dizer como será o comportamento do índice está em saber para onde caminha o câmbio", diz Quadros.
O economista, no entanto, não imagina que o dólar vá subir muito mais do que o patamar que chegou, mas de qualquer maneira a alta atingida trará repercussão no próximo mês. "O que vamos observar outubro serão pressões em direção opostas", afirma. "Os produtos agrícolas e industriais no mercado internacional, como a soja, os minérios e o petróleo, em dólar, poderiam diminuir o índice, só que está havendo elevação da taxa do câmbio, ou seja, mesmo que o preço caia em dólar, sobe em real", conta Quadros.
Na visão do economista, o resultado de inflação ou deflação futuras estarão sujeitos à diversas influências diferentes. Um desses componentes, segundo ele, é a política econômica que o governo decidir seguir. "Os efeitos que estamos observando são aqueles que o mercado provoca, mas tem a política que o Banco Central aplica, que deverá também influenciar o cenário mais adiante, em novembro e dezembro", diz.
Destaques
No resultado do IGP-DI, Quadros destaca como positiva a deflação que chegou ao consumidor, principalmente dos alimentos. "Houve uma inversão do que vinha acontecendo. Os preços dos alimentos estavam muito altos e a própria produção reage, como foi o caso dos laticínios", conta.
Em relação ao segmento da Construção Civil, o economista da FGV diz que essa foi uma primeira pequena desaceleração sentida no custo dos materiais, que "vinha crescendo muito". "Apenas subiu menos [os materiais] e isso deve continuar. O movimento de desaceleração tende a ficar mais forte para a indústria na produção dos materiais".
O grupo soja no atacado, que inclui a soja em grão, o farelo e o óleo de soja, foi outro destaque do IGP-DI do mês passado. Segundo Quadros, a trajetória de alta nos preços de itens relacionados à soja representou 50% da aceleração da taxa do IGP-DI, que passou deflação de 0,38% em agosto para alta 0,36% em setembro.
Somente a soja em grão subiu 2,59% no mês de setembro, após registrar queda de 12,39% em agosto. Entre os derivados da oleaginosa que também tiveram avanço expressivo de preço ou então perderam força em seu processo deflacionário, estão farelo de soja (de -12,14% para 5,07%) e óleo de soja refinado (de -11,44% para -2,04%).
Veículo: DCI