Produção industrial freia em 2011

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Economistas cortam previsões de crescimento para a indústria depois da alta dos juros e do resultado decepcionante de dezembro

 

O resultado da atividade industrial divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra aumento de 10,5% no ano em relação a 2009, o mais alto em 24 anos. O ritmo de crescimento, porém, foi desacelerando ao longo do ano e chegou em dezembro com uma frustrante queda de 0,7% na comparação com novembro.

 

Essa queda, associada às expectativas de alta dos juros e manutenção do câmbio valorizado, levou especialistas e industriais a reverem para baixo as projeções para este ano. O que mudou no cenário foi o grau de confiança no crescimento da produção. Não se prevê um quadro de euforia, mas também não se imagina uma crise. As projeções de crescimento, que variavam de 4% a 6%, agora partem de 2,5%. Ainda há quem mantenha os 6%, embora com viés de baixa.

 

Ontem, a Tendências Consultoria revisou sua aposta de crescimento de 5,3% para 2,7%. Segundo o analista Rafael Bacciotti, embora a indústria permaneça em nível elevado, o cenário é desfavorável. "Ainda há restrição de demanda externa e nível alto de ociosidade em economias importantes, o que gera dificuldade de exportação", diz. "Isso provoca realocação das exportações para o mercado doméstico, ao mesmo tempo em que o câmbio apreciado favorece as importações."

 

Segundo Bacciotti, os dados também geram um carryover (efeito estatístico de um ano para o outro) negativo de 0,6% para 2011, o que torna difícil atingir o desempenho antes esperado.

 

Após crescer 15% em 2010, o Grupo Orsa, fabricante de celulose, papel e embalagens, prevê resultado bem mais modesto, de 5%. "Fizemos o orçamento no fim do ano sabendo que o Banco Central ia tentar segurar o consumo", diz Sergio Amoroso, presidente do grupo, que decidiu suspender investimentos até 2012.

 

Mesmo com demanda forte no mercado interno, o nível do câmbio e a baixa competitividade do produto nacional devem se manter, avalia a economista Thais Marzola Zara, da Rosenberg & Associados. Ela prevê crescimento industrial de 2,5%, ante projeção de 5% feita em meados do ano passado.

 

A LCA Consultores baixou sua expectativa de 4% para 3,5%. Para o economista Thovan Tucakov, além das medidas anunciadas pelo BC no fim do ano, que terão impacto no crédito, são esperados aumento da taxa Selic e política fiscal menos expansiva. "Setores importantes estão sendo prejudicados pelo câmbio, como o de alimentos, vestuário e eletrônicos, que estão produzindo menos e importando mais."

 

Embora tenha mantido a expectativa de crescimento de 6%, a MB Associados admite rever o número. "Esse crescimento entra o ano com viés de baixa", diz o economista-chefe Sérgio Vale.

 

Para ele, "claramente tem um efeito cambial relevante que explica a diferença entre demanda e oferta doméstica que deve continuar ao longo do ano também pelo esfriamento da economia que virá da política monetária mais apertada". Em sua opinião, será um erro de avaliação o governo acreditar que não precisa de ajustes fiscais porque a economia já está desaquecendo.

 

Fábio Silveira, da RC Consultores, vai esperar para rever sua projeção de alta de 5%, mas admite que a indústria está numa "encruzilhada complicada". Somada à dificuldade em competir com importados, há o risco inflacionário e a alta dos juros.

 

O presidente da fabricante de máquinas-ferramenta Ergomat, Andreas Meister, não espera expansão em 2011. Alega que não consegue exportar com o real valorizado. "Também perdemos pedidos para as máquinas importadas e vários clientes deixam de produzir para importar."

 

No setor de eletroeletrônicos, a expectativa é de uma subida mais suave, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros. Em 2010, as vendas da linha branca cresceram 5%, depois de um salto de 30% em 2009, impulsionado pela redução do IPI. "No momento em que a redução foi anunciada, as vendas estouraram; agora, só se fala em aumento de juros, inflação e o consumidor se retrai."

 

Tatiana Pinheiro, economista do Santander, mantém aposta de crescimento de 4,2%. "O nível de emprego, a renda e as vendas estão crescendo e esses dados não casam muito com uma produção que vai cair ao longo de 2011."

 

Veículo: O Estado de S.Paulo

 


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