Mercado eleva pela 9ª vez a previsão para inflação em 2011

Leia em 4min

O corte no Orçamento deste ano, a ser anunciado nos próximos dias, deve evitar que a inflação alcance patamares acima do valor máximo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%. Mesmo assim, não será suficiente para que atinja o centro da meta, de 4,5%, neste ano e nem em 2012, avaliam especialistas.

 

Pela nona vez consecutiva houve alta na perspectiva da inflação pelo mercado, segundo o relatório Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 5,64% para 5,66%, na comparação com o documento anterior. Por outro lado, a previsão para a taxa básica de juros (Selic) - taxa necessária para controlar a pressão inflacionária - não cresce na mesma proporção. No relatório divulgado ontem, a Selic se manteve a mesma projetada na semana passada, de 12,50% ao ano.

 

O analista da Tendências Consultoria, Rafael Bacciotti, afirma que as previsões, pelo menos da consultoria, já trabalham com o corte do Orçamento de 2011 - de em torno de R$ 54 bilhões -, mas ele espera que a inflação chegue a valores bem acima do centro da meta e que o mercado revise para cima suas projeções. "Há muita pressão inflacionária influenciada pelos preços dos alimentos, reajustes urbanos (aumento no preços dos transportes) e pela alta dos preços administrados, por conta do avanço do IGP-M no final do ano passado. Por isso acredito em viés de alta na expectativa para o IPCA com relação ao Focus", analisa o especialista. "E se não ocorrer um forte contigenciamento, a situação da inflação será pior tanto para 2011 quanto para 2012", complementa.

 

Da mesma forma, os economistas do banco Itaú UnibancoIlan Goldfajn (economista-chefe) e Felipe Salles afirmam que devido à alta das commodities impulsionada pela retomada da atividade nos EUA e Europa e pelo aquecimento nas economias emergentes, a inflação doméstica se deteriorou, a resultar em nova rodada de piora das expectativas.

 

Desta forma, a Tendências revisou a estimativa do IPCA de 5,5% para 5,9%. "Acreditamos que o que acontece no primeiro trimestre tem influência no ano inteiro. E a inércia desta pressão deve continuar em 2012", diz Bacciotti. "Nossa projeção é de que no ano que vem, o IPCA feche a 4,8%. Assim, também esperamos que o mercado deve revisar para cima a perspectiva para a inflação em 2012", comenta ele, ao acrescentar que estranhou a alteração na previsão do mercado para o IPCA do próximo ano, de 4,70% para 4,61%. Os economistas do Itaú Unibanco também subiram a expectativa de 5,6% para 5,8% para o IPCA deste ano e de 4,5% para 4,7%, para 2012.

 

O analista da Tendências prevê ainda que haverá mudanças da estimativa para a taxa Selic e que esta deve crescer acima dos 12,5% estimados pelo mercado. "Projetamos que a taxa de juros deve fechar 2011 a 12,75% ao ano", indica Bacciotti. Da mesma forma projetam os economistas do Itaú. Porém, eles esperam que novas medidas macroprudenciais sejam necessárias. "Elevamos nossa previsão de ajuste total da taxa Selic de 150 para 175 pontos-base este ano (para 12%). A piora do quadro inflacionário deverá fazer ainda com que o Banco Central adote medidas adicionais de aperto monetário, que terão impacto ao longo deste ano e do próximo", dizem.

 

O analista da Tendências discorda que serão necessárias novas medidas macroprudenciais e observa que as que já foram tomadas no final do ano passado, como o aumento do compulsórios, serão ainda sentidas.

 

PIB

 

Além da inflação e da taxa Selic, Rafael Bacciotti afirma que o mercado também deve revisar a expectativa para o crescimento econômico. "Atualmente, aguardamos alta do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,4%. Entretanto, devemos rever este patamar para baixo nos próximo dias", diz. Para 2012, ele aguarda alta de 4,4%.

 

"A convergência da inflação para a trajetória de metas no cenário atual - de inflação corrente e expectativas acima da meta, alta de commodities e mercado de trabalho aquecido - requer crescimento abaixo do potencial durante algum tempo", afirmam Ilan Goldfajn e Felipe Salles. Eles projetam avanço do PIB de 4%, contra 4,3% previstos anteriormente por eles. Para 2012, a expectativa do banco passou de 4,3% para 3,8%.

 

De acordo com o relatório Focus, o mercado espera crescimento econômico de 4,6% para este ano, a mesma do último documento. Para o ano que vem, a expectativa é de alta de 4,5%.

 

Veículo: DCI


Veja também

Fiesp quer medidas para barrar as importações

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu o...

Veja mais
Inflação ao consumidor perde força e fica em 1,16% na 1ª semana de fevereiro

Os grupos Educação, Alimentação e Saúde apresentaram decréscimos em suas taxas...

Veja mais
Governo quer frear consumo no exterior

Aumento do IOF sobre compras internacionais com cartão de crédito está em análise no Pal&aac...

Veja mais
China vende mais caro para o Brasil, diz consultor americano

Segundo Paul Midler, brasileiros desconhecem funcionamento da cadeia produtiva chinesa   China aceita fabricar pr...

Veja mais
67% das empresas nacionais perdem mercado para China

Os mercados interno e externo brasileiros registram perdas pela concorrência chinesa, segundo a pesquisa da Confed...

Veja mais
EUA e Brasil preparam frente contra controle de preços

Secretário do Tesouro dos EUA vem ao Brasil debater tema que deve ser discutido no encontro do G-20, em Paris &n...

Veja mais
Preço de alimentos tem maior alta em 21 anos, diz FAO

É o sétimo mês seguido de alta; entre dezembro e janeiro houve um acréscimo de 3,4% na cota&c...

Veja mais
Metade das empresas muda estratégia para enfrentar concorrência chinesa

Sondagem da CNI mostra que até companhias que ainda não competem com a China apostam em outros atrativos p...

Veja mais
A meta fiscal para 2011 encolherá de novo

Uma inflação maior do que a inicialmente prevista elevou o valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB) no...

Veja mais