O ministro da Agricultura, Wagner Rossi criticou ontem a posição defendida pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, de intervir nos preços das commodities por meio da criação de estoques reguladores. Rossi lembrou que a pressão gerada pela valorização das commodities agrícolas é uma realidade, mas que se deve a uma série de fatores e nenhum deles é "culpa do Brasil".
"Enquanto os preços estavam em queda, nenhum presidente ou chefe de Estado propôs uma intervenção sobre os preços. Agora querem limitar os ganhos dos produtores brasileiros", disse o ministro, que participou ontem da primeira reunião do ano do Conselho Superior do Agronegócio, órgão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O ministro brasileiro atribuiu boa parte da alta dos preços à especulação provocada pelo mercado financeiro e disse que existem "mitos" a serem desfeitos. "Os preços do arroz e do feijão, base da alimentação do brasileiro, estão abaixo do mínimo, o que está levando o governo a fazer leilões de compra", disse. "Todos os dias tomamos medidas em relação ao preço, seja para apoiar o produtor ou para evitar especulações", afirmou Rossi.
Na avaliação do ex-ministro Roberto Rodrigues, presidente do conselho da Fiesp, não existe uma solução para a alta nos alimentos, pois ela faz parte de um movimento cíclico da atividade produtiva. "A tese francesa é recorrente e estrategicamente importante, desde que haja produtos para serem armazenados", disse Rodrigues, observando que a demanda por alimentos cresceu em um ritmo superior ao aumento da oferta.
Durante sua apresentação aos membros do conselho da Fiesp, Rossi defendeu uma aproximação maior entre o setor privado e o governo federal. Ele lembrou o pedido da presidente Dilma Roussef pela modernização administrativa e de procedimentos da Pasta, e defendeu a discussão, com o setor, do que chama de campanha caluniosa contra produtos brasileiros, como carnes e álcool, na União Europeia. "Chegou a hora de agirmos".
Outra medida que o ministro prometeu avaliar é a entrada em vigor do decreto 7.029, de 10 de dezembro de 2009, prevista para 12 de junho deste ano. A decisão prevê a regularização ambiental das propriedades rurais do país. Ele não descartou a possibilidade de ser solicitada uma nova prorrogação no prazo.
O assunto ganhou destaque depois que o Banco do Brasil enviou um comunicado às agências lembrando o decreto e informando que as liberações de recursos para a nova safra, a 2011/12, só serão feitas se as propriedades estiverem adequadas. "O banco precisa cumprir a legislação vigente. Se ela for alterada em algum momento vamos aplicar a norma que estiver valendo no momento do pedido e por enquanto é a do decreto", disse Luis Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócio do Banco do Brasil.
Veículo: Valor Econômico