Ministro se antecipa para falar do assunto e diz que tendência é de recuo nos próximos meses
Com o IPCA de janeiro mais alto desde abril de 2005, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratou ontem novamente de atenuar a elevação da inflação neste início do ano. Na tentativa de coordenar as expectativas e de sinalizar que a alta é sazonal e passageira, o ministro fez questão de comentar a divulgação do resultado do IPCA de janeiro ao chegar ao Ministério da Fazenda.
Quando questionado sobre os cortes do Orçamento, Mantega foi logo declarando que o IPCA mais forte já era esperado ante a pressão de transporte e educação e que a tendência é de recuo nos próximos meses. Sobre cortes do Orçamento, nada falou.
A maior preocupação do ministro, segundo apurou o Estado, é evitar que se instale na economia um "pessimismo" generalizado em torno da alta de inflação e da capacidade de o Banco Central (BC) ancorar as expectativas para o centro da meta, de 4,5%. Um cenário nessa direção poderia criar um círculo vicioso negativo em torno da inflação, o que exigiria um ciclo mais forte de aperto monetário.
Mantega, segundo assessores, considera "importante" manter essa comunicação da posição do governo para combater o crescimento da avaliação do mercado, de que vai levar mais tempo para o BC colocar a inflação em 12 meses na meta. De acordo com o ministro, o IPCA elevado se deve à volta da inflação das commodities, que está forte no mundo todo, e à pressão sazonal de janeiro. "Janeiro costuma ter pressão de transporte e educação", afirmou Mantega.
Para o ministro, no entanto, esse não é um problema para o Brasil, pois a pressão de transporte e educação tende a regredir, a partir de fevereiro. "Mesmo commodities, eu acredito que elas vão ter uma trajetória decrescente ou estável nos próximos meses. Isso significa que a tendência é de arrefecimento da inflação", disse. "Não digo fevereiro, pois ainda há pressão de transporte. Mas, a partir de março e abril, vocês verão essa pressão diminuindo", destacou.
Os analistas do mercado, no entanto, estão céticos com a inflação e veem no resultado de janeiro um sinal de que a elevação da inflação vai além de pressões sazonais. Na contramão dessa avaliação, a equipe econômica do Ministério da Fazenda acredita que a manutenção da inflação dentro da meta deixará de ser uma preocupação do governo antes do fim do ano.
Uma fonte do ministério disse que as medidas adotadas pelo BC a partir de dezembro do ano passado devem ser suficientes para trazer a inflação para dentro da meta. Por outro lado, avalia a fonte, as medidas devem esfriar a economia. Essa fonte acredita que a desaceleração do crescimento "tomará as discussões" assim que a inflação mostrar arrefecimento.
Por outro lado, a equipe econômica quer evitar que o ritmo de crescimento caia para níveis muito baixos, o que depois poderá exigir do governo novas medidas de estímulo da economia para elevar o crescimento a níveis de 5% ou 6% ao ano.
A fonte destaca, no entanto, que pela primeira vez em muitos anos a política adotada pelo BC para trazer a inflação para a meta está alinhada com o que pensa o Ministério da Fazenda. A avaliação é de que essa maior integração estaria facilitando a adoção das chamadas medidas "macroprudenciais".
Veículo: O Estado de S.Paulo