No caso do financiamento de veículos, taxa sobe e prazo médio para o pagamento cai de 44 para 35 meses; venda de modelos populares recua
Parte do comércio começou a sentir, ainda timidamente, o ajuste promovido pelo governo nos últimos dois meses - que levou a alta dos juros do crédito para pessoa física e queda dos pedidos de empréstimo. A rede Mônica Calçados, com cinco lojas na zona norte de São Paulo, viu a inadimplência subir nos dois últimos meses. Foi de 3% para 5%, segundo o gerente Adalberto Martins Ramos.
A loja tem crediário próprio e cobra juros de 4,90% ao mês. "É claro que o aumento da inadimplência vai nos obrigar a aumentar a taxa de juros. O bom paga pelos ruins", diz Ramos.
Na rede Armarinhos Fernando, também de São Paulo, o movimento de clientes não caiu, segundo o gerente Ondamar Antonio Ferreira. Mas a empresa, que tem a própria financeira, teve de aumentar os juros em dezembro, de 14,99% para 15,99%.
Para Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo, o impacto que se viu até agora na tomada de recursos e nos juros ainda não reflete a alta da taxa básica de juros. "Ainda é cedo para avaliar, mas se o governo errar na medida, pode haver uma reversão da expectativa do consumidor, ainda com alto viés otimista", analisa.
Automóveis. Além de taxas mais altas, o financiamento de veículos teve o prazo médio encurtado de 44 para 35 meses. Já os planos de 60 meses sem entrada, um dos principais alvos do pacote de restrição ao crédito, ainda é oferecido, mas com juros em média 30% maiores. A taxa passou de 1,36% ao mês para 1,8%. Um carro popular, que custa R$ 23,9 mil, hoje pode ser adquirido em 60 parcelas de R$ 650, ante R$ 590 antes das medidas. Ao fim do plano, o modelo terá custado R$ 3,6 mil a mais.
Um efeito desse aumento já foi sentido nas vendas de janeiro. A participação dos carros 1.0, normalmente adquiridos pelos consumidores de menor renda, caiu de 50,1% em novembro para 46,2% no mês passado.
Na indústria, o clima ainda é de otimismo. Ontem a Federação da Indústria do Estado de São Paulo anunciou a contratação de 15,5 mil trabalhadores em janeiro. "Não há euforia, mesmo porque não adianta a atividade industrial crescer só agora. O que se espera é que essa política monetária não estrague o atual momento", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih não acredita que as medidas da equipe econômica possam levar a um travamento da economia."Vínhamos num ritmo muito alto de crescimento. Era uma taxa muito elevada, insustentável. Agora, com a previsão de 4,5% de crescimento para 2011, apesar de ser uma queda brutal, é o ritmo compatível com as condições do País."
Veículo: O Estado de S.Paulo