Um dos principais assuntos deste início de 2011 é a alta da inflação nas economias emergentes, impulsionada pela forte elevação dos preços dos alimentos. Embora esse fenômeno tenha sido exacerbado por choques climáticos e quebras de safras de certos produtos agrícolas, ele é reflexo da demanda vigorosa dos países emergentes.
Algo parecido ocorreu no início de 2008, quando os preços das matérias-primas dispararam, sobretudo as cotações dos produtos agrícolas. Naquela altura, a alta foi parcialmente compensada por uma valorização do real ante o dólar, algo que não ocorre hoje em razão das medidas para conter o fortalecimento da moeda brasileira. Isso tem provocado inquietação adicional sobre as intervenções do BC para evitar que o real se valorize.
Decerto, uma maior valorização do câmbio ajudaria a conter os efeitos inflacionários ao limitar a alta das commodities. Porém, a apreensão do BC brasileiro com movimentos unidirecionais do câmbio é compreensível, sobretudo após o ocorrido em 2008, quando as apostas de que o real continuaria a se valorizar resultaram no episódio dos derivativos cambiais.
Mais eficaz do que o câmbio para conter os efeitos da alta das commodities é o instrumento convencional de política monetária, a Selic. Nesse sentido, a elevação dos juros recém-iniciada pelo Copom deve aliviar uma parte do impulso adicional sobre os preços.
É importante, porém, que os estragos da alta dos alimentos e de outras matérias-primas na inflação não sejam minimizados. Primeiro porque esses movimentos parecem ser mais permanentes que transitórios, e podem requerer ações mais enérgicas da política monetária. Segundo porque a alta dos alimentos tende a se propagar mais rapidamente na economia, como mostra estudo recente do FMI, contaminando os demais preços e as expectativas de inflação, sobretudo com a demanda já aquecida.
Se a vida dos BCs emergentes já não estava fácil, quem dirá agora, com uma inflação muito bem nutrida por alimentos em ascensão.
Veículo: O Estado de S.Paulo