Sob impacto dos preços de educação e transporte, IPCA-15 deste mês ficou em 0,97%, mantendo a trajetória de alta que em janeiro apontou 0,76%
A prévia da inflação de fevereiro medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) atingiu 0,97%, mantendo trajetória de alta em relação a janeiro, quando ficou em 0,76%. Sob o impacto do aumento das mensalidades escolares, o dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem é o maior da série histórica para este mês desde 2003. No entanto, houve desaceleração no setor de alimentos.
O resultado do IPCA-15 teve forte componente característico da época do ano, representado pela alta nos grupos educação (5,88%) e transporte (1,04%). O efeito é comum em fevereiro, mas a variação dos preços dos serviços educacionais ficou bem acima da média de 4,14% dos últimos quatro anos.
As mensalidades dos cursos de ensino formal subiram 6,41%, o item de maior contribuição individual ao índice: 0,31 ponto porcentual. "A combinação aumento de renda e custo de trocar um filho de escola faz com que as pessoas se disponham a pagar aumento de mensalidade acima da inflação oficial", diz a economista Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). Ela tem apontado a crescente pressão dos serviços sobre a inflação desde o início do ano. Cursos como o de idiomas subiram 8,22%.
O transporte também pressionou a prévia da inflação em fevereiro, principalmente por causa da alta de 3,37% nas tarifas de ônibus, o segundo maior peso individual no IPCA-15. O maior reajuste ocorreu em São Paulo: 7,53%. Também subiram os gastos com despesas pessoais: 1,17%.
Em dois meses, o IPCA-15 já acumula alta de 1,74%, mantendo a preocupação em torno da meta de inflação de 4,5% para este ano. Em 12 meses, o índice acumula alta de 6,08%, perto do teto tolerável de 6,5%.
Por outro lado, o IBGE mostrou desaceleração na alta dos alimentos, maior pressão sobre a inflação nos últimos meses.
Em janeiro, o IPCA-15 registrou variação de 1,21%. Agora, identificou alta de 0,57%. As carnes, cujos preços vinham subindo, tiveram deflação de 1,87% e deram a contribuição mais intensa para baixo ao índice: -0,05 ponto porcentual. Vários itens ficaram mais baratos, como feijão carioca (-11,66%), batata inglesa (-9,15%) e frango (-1,17%).
Essa desaceleração levou a economista Fernanda Camino, da área de análises da XP Investimentos, a projetar o IPCA fechado de fevereiro abaixo dessa prévia. Para ela, o índice deve fechar o mês em torno de 0,85%. Antes do IPCA-15, a projeção da XP era um pouco maior, de 0,90%.
"Revisamos nossa estimativa, já que o IPCA-15 veio um pouco abaixo do que esperávamos. Os dados de educação foram muito fortes, mas tendem a ser diluídos até o fim do mês. Vimos uma desaceleração bem forte em alimentos e bebidas, com deflação nos itens desse grupo de consumo doméstico", avalia.
Fernanda destaca também a desaceleração em outros segmentos, como o de vestuário: alta de 0,13% em fevereiro ante 0,83% em janeiro. Para ela, as restrições ao crédito para o consumo já surtem efeito. /COLABOROU ALESSANDRA SARAIVA
Veículo: O Estado de S.Paulo