Muitos economistas estão convencidos que a economia entrou 2011 num ritmo mais moderado. Indicadores como fabricação e venda de automóveis, fluxo de veículos pesados nas rodovias e expedição de papelão ondulado apontam queda da indústria e das vendas no varejo em janeiro. O diretor de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, diz que não se pode descartar um PIB negativo no primeiro trimestre de 2011. "O nosso número está em torno de zero, mas pode ser algo abaixo disso", diz ele. A LCA Consultores vai na mesma direção e projeta retração 1,5% da produção industrial sobre dezembro.
Para Barros, do Bradesco, com o "marasmo" da indústria e a desaceleração do comércio, o Produto Interno Bruto (PIB) de janeiro deve ter registrado queda. "O PIB mensal do Bradesco indica recuo de 0,7% sobre dezembro." Ele afirma que os números de crédito em janeiro, marcados pela perda de fôlego das concessões, reforçam "inequivocamente" a tendência de desaceleração que, segundo ele, já ocorria antes da adoção das medidas de restrição a empréstimos e financiamento e do início do ciclo de alta de juros. Ele estima que, em janeiro, houve queda de 1,7% das vendas no varejo ampliadas em relação a dezembro, feito o ajuste sazonal, e de mais 0,7% em fevereiro.
Segundo Barros, "parte da comunidade empresarial ainda acalenta o sonho de que 2010 será eterno", mas pesquisas do Bradesco já sugerem que as companhias começam "a calibrar o otimismo". Por tudo isso, acha mais do que suficiente uma alta de 0,5 ponto da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária nesta semana.
O fraco desempenho da produção de veículos é um dos principais motivos que levam os analistas a projetar recuo da indústria em janeiro. Na série dessazonalizada da LCA, a fabricação de automóveis e comerciais leves caiu 3,6%, e vai puxar a queda da indústria no mês. O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, diz que a redução de 1% do fluxo de veículos pesados nas rodovias também tem peso importante para a sua projeção, ainda que o patamar do indicador siga alto, só abaixo do de dezembro.
Para o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, a produção industrial (que será divulgada quarta-feira) caiu 0,3% em janeiro Em dezembro, ela recuou 0,7%.
Borges também cita o crédito como um sinal de moderação da atividade, vendo um resultado ruim até mesmo nos dados preliminares de fevereiro divulgados pelo Banco Central, que indicaram alta de 11% sobre janeiro. Cálculos da LCA que ajustam e deflacionam essa série apontam queda de 4,5% na média diária de concessões de empréstimos para a pessoa física.
Bicalho diz que a prévia para janeiro do PIB calculado pelo Itaú Unibanco indica alta de 0,2% sobre dezembro. Nos três meses anteriores, houve aumento de 0,6%. Segundo ele, essa perda de fôlego se deve ao fato de o setor de serviços também mostrar desempenho mais fraco agora, como no comércio.
Os números da LCA apontam queda em janeiro de 6,4% do licenciamento de automóveis e comerciais leves, na comparação com dezembro. De 1 a 24 de fevereiro, houve novo recuo, de 1,9%.
Veículo: Valor Econômico