A uma semana da segunda reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do governo Dilma, os dois novos diretores do Banco Central defenderam em sabatina no Senado o aumento da Selic como instrumento mais eficiente para o controle da inflação, uma vez que a autoridade monetária não teria mais margem para realizar o aperto monetário via aumento dos depósitos compulsórios (recursos que os bancos são obrigados a recolher aos cofres do BC).
Indicado para a Diretoria de Administração do Banco Central, Altamir Lopes afirmou aos parlamentares que parte do crescimento da inflação no início do ano está relacionada com a produção de alimentos - afetada por secas e enchentes ao redor do globo - e outros fatores sazonais, como o reajuste das mensalidades escolares e dos transportes.
Chefe do Departamento Econômico da instituição há 15 anos, Lopes considerou, no entanto, que existe um descompasso entre a oferta e a demanda no País, o que justificaria a ação do Copom e aumentar os juros. "O aumento da Selic é para corrigir distorções em outros segmentos, como serviços e outros bens que não as commodities alimentícias", afirmou, acrescentando que o aumento dos preços no setor de serviço está em cerca de 7% no acumulado de 12 meses.
Questionado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) se o combate à inflação não poderia ser feito por outros instrumentos - como o aumento dos depósitos compulsórios dos bancos - que não acarretassem aumento ainda maior da taxa básica de juros, Lopes argumentou que essa medida, apesar de ajudar na "esterilização da liquidez", tem limite para ser adotada. No fim do ano passado, o governo já elevou o porcentual dos compulsórios em financiamentos de longo prazo, para consumo.
"A margem que se tem livre em relação ao uso dos compulsórios para conter o aumento da inflação é pequena. O aumento dos juros tem mais efetividade porque reflete nas expectativas e na postergação do consumo em benefício da poupança", alegou o diretor indicado.
Sidnei Marques, que foi indicado para a Diretoria de Liquidação e Controle de Operações de Crédito Rural do BC, reforçou seu compromisso de enfrentar com todos os instrumentos disponíveis a inflação, que classificou como fenômeno "nocivo e injusto".
Tentativa de manobra. Logo na primeira reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta legislatura, o novo presidente da comissão, Delcídio Amaral (PT-MS), e seu vice, Lobão Filho (PMDB-MA), tentaram aprovar os diretores sem que houvesse de fato perguntas dos senadores.
Como houve reação de alguns parlamentares, a sabatina foi iniciada, mas os nomes de Lopes e Marques foram colocados em votação antes mesmo da conclusão do debate, o que irritou senadores da oposição. Flecha Ribeiro (PSDB-PA) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) deixaram a CAE sem votar, em protesto à condução dos trabalhos. Ainda assim, Lopes e Marques obtiveram aprovação por 19 votos a favor, com 2 abstenções.
Durante as discussões, Lopes foi confrontado por uma questão que ele confessou não saber responder com precisão: o custo de manutenção das reservas internacionais do Brasil, que hoje superam os US$ 300 bilhões.
No entanto, ele reconheceu que este custo é elevado, porque a composição das reservas se dá em títulos de países que pagam juros baixos.
Veículo: O Estado de S.Paulo