Comércio e indústria levam incerteza ao PIB

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Analistas refazem as contas para baixo, mas ainda não são unânimes nas estimativas para o crescimento do país em 2011

 

O governo ainda não admite oficialmente um crescimento inferior a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Mas, na semana em que serão divulgados os números do PIB de 2010, muitos analistas já incorporaram um “viés de baixa” nas suas projeções. Por exemplo, o relatório Focus, do Banco Central, projetou crescimento do PIB de 4,3%, recuo frente aos 4,5% da semana passada.

 

No entanto, fatores conflitantes jogam sombra sobre o real tamanho do crescimento da economia. Projeções de produção industrial apontam baixa, enquanto surgem dados mais favoráveis no comércio. Somam-se a isso as dúvidas em relação ao impacto efetivo do ajuste fiscal e das medidas restritivas de crédito, e o que surge é um quadro nebuloso.

 

A gestora Franklin Templeton, por exemplo, trabalha neste momento na revisão da projeção de 4,5%, “para algo um pouco abaixo de 4%”, diz o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho. Para a revisão, o economista trabalha com estimativa de alta de 1,5% na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC, no conceito restrito que exclui automóveis e material de construção) e queda de 0,7% na margem em janeiro para a produção industrial. “Além disso, também consideramos para a nova projeção algum impacto do pacote fiscal do governo”.

 

Contraponto

 

Os dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgados ontem —  alta de 3,6% nas vendas reais em janeiro na comparação com janeiro de 2010 — são mais um argumento no sentido de que a PMC de janeiro deve vir com bons números, depois da estabilidade verificada em dezembro, pondera o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal. “A produção industrial deve ter queda na margem de 0,5% em janeiro, seguida por nova queda em fevereiro, e isso já vem suscitando ideias em torno de PIB negativo no primeiro trimestre do ano. Mas os bons números do comércio vão fazer o contraponto da queda na indústria”, diz Leal, que mantém a projeção de crescimento do ano em 4,2% “com viés de baixa”.

 

Para o economista do Banco ABC Brasil, há uma dificuldade maior na avaliação de cenário hoje por conta das medidas restritivas ao crédito implementadas em dezembro. “Não se tem um histórico de impacto desse tipo de medida na economia.” De qualquer forma, ele avalia que há um risco potencial se o governo resolver não aceitar um crescimento menor em 2011. “Se o governo se apavorar com o crescimento abaixo de 4% e começar a afrouxar a política monetária logo, provavelmente teremos necessidade de um novo aperto logo mais à frente, pois o salário mínimo deve ter alta em torno de 14% em 2012 com as novas regras”.

 

Menos pessimista, o economista-chefe do Banif Investment Bank, Mauro Schneider, está em revisão da projeção de 4,7% do PIB “para um patamar mais próximo de 4%”. Ele considera na revisão um cenário de acomodação do nível de atividade, fruto de uma aceleração maior que o esperado no consumo de bens duráveis no final do ano. “Também considero a forte pressão inflacionária, ao mesmo tempo em que o salário mínimo teve alta mais modesta, o que traz alguma perda na dinâmica da economia”.

 

Para Schneider, preocupa o fato de que o Banco Central não tem conseguido ancorar as expectativas do mercado, fazendo a inflação convergir para a meta. “Do terceiro para o quarto trimestre do ano, a inflação em 12 meses deve rodar acima de 7% e esse deve ser o parâmetro para os reajustes salariais importantes que ocorrem entre setembro e outubro no país.” ■

 

Veículo: Brasil Econômico


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