BNDES tem 60% do crédito para investimento

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Para o crescimento da economia brasileira, o maior desafio do sistema bancário nacional é o desenvolvimento do mercado privado de financiamentos a longo prazo para a área de investimentos, que abrange infraestrutura, ciência e tecnologia, educação e indústria. Atualmente, os bancos públicos têm sido o provedor de 87% do crédito desse segmento, com 60% financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), 15% pela Caixa Econômica Federal e 12% pelo Banco do Brasil, de acordo com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland.

 

Segundo os especialistas presentes em palestra realizada na FGV-EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), este setor precisa ser ampliado, com a participação de bancos privados para a disponibilização de mais capital. "O problema é que o mercado de crédito no Brasil gerou mercado para o consumo e carece para o investimento. Não se fala em planos de investimento sem financiamento e em crescimento sem investimento", acrescentou Holland.

 

A taxa de investimento (relação entre Formação Bruta de Capital Fixo e Produto Interno Bruto) de 2010 foi de 18,4%. Para o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, o Brasil precisa elevar a taxa para 23%, e, para isso, necessita atrair mais capital local a longo prazo, externo e mercado de capitais. "Se o Brasil crescer 1%, nós falamos em R$ 1,2 trilhão em investimentos adicionais. Um volume enorme de recursos necessários. No meu ponto de vista, não me parece que o BNDES consiga sozinho suprir essa demanda."

 

Sobre a situação do BNDES no cenário de financiamento a longo prazo, o diretor de Planejamento João Carlos Ferraz afirmou que o banco já cede espaço para o setor privado. "O BNDES vai baixar a participação no financiamento a longo prazo. Isto acontece ao reduzir a participação em 10 pontos percentuais nas distintas linhas. Também vamos reduzir o uso de TJLP [taxa de juros a longo prazo] para ampliar o financiamento em outras moedas para tornar mais sofisticado e criar mercados secundários. E utilizar instrumentos de renda variável". O BNDES foi responsável pela concessão de 21% do crédito total registrado no ano passado.

 

Outros fatores impedem que os bancos privados financiem o investimento, segundo Sardenberg, que acredita que a preservação da estabilidade macroeconômica é o primeiro ponto para que aconteça uma ampliação dos financiamentos a longo prazo. "Do ponto de vista de construção de cenário de inflação baixa e curva de juros razoáveis, é ilusório imaginar que vai atrair capital privado, porque o risco das operações é elevado. Quanto mais estabilidade, com inflação baixa, maiores são as chances", pontuou o economista da Febraban.

 

A ausência de funding de longo prazo também foi ressaltada durante a discussão na FGV e, para Sardenberg, é o segundo problema. "Em função do passado inflacionário do Brasil, a captação de recursos ainda possui prazo muito curto, pois os investidores se preocupam com a garantia de liquidez. A consequência é observada na estrutura de passivos dos bancos privados, que é muito curta. Mesmo em aplicações de longo prazo, ele tem o direito de resgatar, por isso funciona como curto prazo."

 

Ele também destacou que outros fatores importantes para a ampliação dos investimentos são a estabilidade de regras e a ampliação do mercado de capitais. Na sua avaliação, duas medidas que o governo adotou para administrar a política econômica são eficientes. As mudanças nas regras da CVM e o início de emissão de Letras Financeiras (LF), que chegou ao mercado em março de 2010 para suprir a carência por um instrumento de captação de longo prazo e já atingiu o estoque de R$ 53,3 bilhões em 2011.

 

O economista e professor da FGV Yoshiaki Nakano finalizou o debate ao acrescentar que a política monetária adotada pelo Banco Central também prejudica o crédito a longo prazo. "O BC aprisiona toda poupança no curto prazo e paga a mesma taxa que o longo prazo. Com isso, os investidores vão para o curto. Esta é a primeira mudança que deve acontecer na questão bancária."
 

Veículo: DCI


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