Produção industrial cresce 1,9%, a maior expansão desde março de 2010

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IBGE diz que calendário influenciou resultado de fevereiro, pois carnaval caiu nesse mês no ano passado; ante mesmo mês de 2010, alta é de 6,9%
 

Após mais um tímido desempenho em janeiro (0,2%), a alta de 1,9% da produção industrial em fevereiro, na comparação com o mês anterior, registrada ontem pelo IBGE, foi a maior desde março de 2010, que havia sido de 3,5%. O resultado rompeu a longa acomodação da indústria iniciada em abril, mas ainda não garante o fôlego renovado.

 

O economista André Macedo, responsável pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, disse que o indicador foi influenciado pelo calendário, já que fevereiro teve mais dias úteis este ano do que em 2010. Na comparação entre a produção de fevereiro de 2011 e a do mesmo mês do ano passado, a alta foi de 6,9%.

 

"O fato de o carnaval ter ocorrido em março este ano pode ter levado a indústria a antecipar a produção. Precisamos aguardar os próximos meses, pelo menos março e abril, para mostrar se o crescimento da produção se sustenta. De qualquer forma, não podemos descartar um incremento real na produção, já que o a variação em fevereiro foi bem mais alta do que a de janeiro", observou.

 

Ramos pesquisados. Entre os 27 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, 17 apresentaram expansão na produção em fevereiro. Os bons resultados das categorias de bens intermediários (1,3%) e de capital (0,9%), também comparados a janeiro, favorecem a expectativa de retomada, já que a primeira tem relação com a compra de insumos pela própria indústria e a segunda com os investimentos em máquinas e equipamentos para ampliar produção.

 

Por outro lado, os bens de consumo tiveram desempenho mais modesto: alta de 0,5% em fevereiro ante mês anterior. Em janeiro, nessa mesma comparação, o segmento havia crescido 6,1%. A variação foi positiva por causa do ajuste sazonal das séries que compõem o setor, já que as subcategorias de duráveis (-2,3%) e semiduráveis e não duráveis (-0,2%) recuaram. A maior influência foi do grupo material eletrônico e equipamentos de comunicações (-5,7%).

 

"Esse setor teve férias coletivas em dezembro e houve uma compensação em janeiro. Agora, há um pouco de devolução da expansão forte do mês anterior", explicou Macedo, referindo-se ao grupo que abrange a produção de celulares.

 

Além do efeito calendário, análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) indicou que o resultado também pode ter refletido uma "acomodação" da intensa substituição da produção doméstica de importações favorecida pelo câmbio, que tem amortecido a influência do consumo sobre a indústria.

 

O Iedi avaliou positivamente a alta de fevereiro após a queda acumulada de 2,2% entre abril e janeiro, mas advertiu que não significa que a indústria vai crescer a taxas tão fortes nos próximos meses.

Maiores altas. Entre as principais altas, o IBGE destacou justamente a redução da importação como fator principal para a elevação da produção de metalurgia básica (3,3%) e produtos de metal (7%) em relação a janeiro, mas a alta da indústria foi puxada principalmente pelos grupos alimentos 6,7% e veículos (4,7%).

 

A produção de alimentos, um dos principais componentes da alta recente da inflação, já acumula aumento de 7,7% este ano, após ter recuado 5,2% entre setembro e dezembro.

 

Os destaques são açúcar, aves e derivados de soja. Já entre o segmentos com recuo na atividade, o de produtos químicos (-3,7%) sofreu impacto com a paralisação no programa de indústrias no Nordeste por causa do apagão registrado na região no início de fevereiro.

Crescimento foi surpresa até para especialista

 

O crescimento da produção industrial em fevereiro, de 1,9%, surpreendeu o economista-chefe da consultoria LCA, Braulio Borges. Ele projetava uma expansão de 1% ante janeiro (com ajuste sazonal) e de 5,5% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

 

A surpresa decorreu do fato de que, mesmo descontando o efeito calendário, que neste ano transferiu o carnaval de fevereiro para março, a produção ainda supera sua previsão.

 

A boa notícia, segundo Borges, é que esta expansão não está gerando aumento do Nível de Utilização da Capacidade Instalada. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o uso da capacidade da indústria recuou em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, voltando para perto dos 84% de fevereiro do ano passado.

 

"Esse é um ponto relevante para a política monetária", destaca o economista. Segundo ele, o nível está próximo do índice neutro, ou seja, não exerce pressão sobre a inflação. "Acima de 84%, o nível de utilização da capacidade pressiona a inflação, e abaixo disso alivia a pressão sobre os preços", explica o economista.

 

Veículo: O Estado de S. Paulo


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