Dólar baixo garante mais opções de oferta para o comércio e para o cardápio do almoço dos brasileiros. Mas já preocupar bastante a indústria local que vem sofrendo com a competição acirrada do produto estrangeiro.
O consumidor terá mais opções na escolha de produtos como bacalhau, vinhos e azeites para o almoço da Páscoa, como mais um reflexo do dólar favorável às importações. É um motivo de preocupação para a indústria local, mas uma grande oportunidade para o comércio e o cliente final. O real valorizado, associado a um conjunto de outras condições favoráveis do atual cenário econômico mundial e local, indicam que o consumo ainda se apoiará muito em importações ao longo de 2011, analisa o coordenador geral do Programa de Administração do Varejo (Provar), Claudio Felisoni de Ângelo.
"Não é o consumidor que está pedindo mais importados. O que acontece é que os produtos estão à disposição; o cliente observa isso e compara preços. Para o varejo, a oferta maior de produtos permite espremer a indústria (na negociação de preço). Nessa situação, o varejo e o consumidor final nadam de braçada", disse Felisoni.
Demandas – O diretor de importações e exportações do Grupo Pão de Açúcar, Sandro Benelli, comenta que o câmbio favorável não é o único fator importante para a chegada de mais importados. "A nova classe média acaba criando demandas; não é só mais consumo, mas a qualidade de consumo", detalha.
"O crescimento das importações brasileiras não é uma curva infinita", analisa Benelli. Segundo ele, no Grupo Pão de Açúcar elas representam entre 7% e 8% das compras, com crescimento acentuado depois da crise.
Segundo Benelli, o que houve foi a ampliação, por meio de importações, de opções nas categorias de produtos tradicionais. No caso do bacalhau, Benelli explica que o produto de menor preço ainda representa o maior volume de consumo, mas que a demanda pelas categorias intermediário e superior também aumentou. O grupo realiza importações diretas para todas as suas bandeiras (Pão de Açúcar, Extra, CompreBem, Ponto Frio, Casas Bahia, entre outras) e também traz do exterior produtos com marca própria.
Ampliação – Na Rede Brasil (associação com 16 bandeiras independentes de auto-serviço), o efeito é semelhante. "Nós já importávamos vinho (antes da apreciação do real), mas houve ampliação do número de itens da categoria", informa o gerente administrativo Claudio Leme.
O mesmo ocorreu com azeites, bacalhau, geleias, massas, atomatados, vegetais congelados e bazar (utilidades domésticas). Em alguns casos, o cenário propício determinou uma "mudança cultural", com substituição dos distribuidores locais de importados por importação direta.
Mais azeite na mesa
No que depender da espanhola Borges, a compra dos seus azeites tende a acontecer cada vez mais junto à rede local de distribuição, ampliada em todas as regiões do País, segundo divulgou recentemente a empresa. O diretor comercial da operação brasileira, Bernardo Pontes, afirma que a expansão faz parte da estratégia de alcançar maior capilaridade. Aqui, compara, o azeite, que representa 90% dos negócios, chega a custar 10 vezes mais que o óleo de soja por isso seu consumo é bem mais baixo que no mercado europeu. Mas o fato de estar ligado à dietas saudáveis deve ajudar a elevar as vendas, segundo o executivo.
Ele acrescenta que a Borges deu maior atenção ao Brasil a partir de 2009, quando passou a ter uma gestão própria no País, de onde comandará as operações para toda a América Latina. Em 2010, de acordo com Pontes, os negócios locais cresceram 40% em faturamento ante 2009. O objetivo é repetir a performance em 2011 e ampliar a participação com vinagres e conservas, especialmente as azeitonas.
Veículo: Diário do Comércio - SP