POLÍTICA MONETÁRIA - Dilma Rousseff afirma que não haverá, em hipótese alguma, desmobilização do governo para conter a alta dos preços; no relatório Focus divulgado ontem, analistas já prevem que o índice encerrará o ano em 6,34%
Apresidente Dilma Rousseff elevou o tom ao falar do temor da inflação.
Em entrevista ontem no Palácio do Planalto, ela afirmou, com voz firme, que o governo está atento e preocupado. “Todas as nossas atenções estarão voltadas para o combate acirrado à inflação”, disse. “Nós temos muita preocupação. Não haverá em hipótese alguma desmobilização do governo”, acentuou.
Dilma tem informação de que a inflação persiste e cresce num ritmo preocupante.
Em apenas 12 meses, as projeções do mercado financeiro para a inflação de 2011 sofreram forte impacto.
Em 20 de abril do ano passado, a média das expectativas do mercado para o IPCA estava em 4,8% e, segundo o relatório de mercado Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), analistas das instituições financeiras já preveem que o índice encerrará o ano em 6,34%.
A diferença de 1,54 ponto percentual nesse período revela mais do que uma simples pressão dos preços, conforme estudos feitos por economistas e repassados à presidente.
Há o temor de que o BC pode ter “perdido a mão” no controle da inflação deste ano. As projeções feitas em abril do ano passado indicavam que a taxa ficaria muito perto do centro da meta perseguida pela autoridade monetária este ano, de 4,5%.
Agora, o que se vê é a expectativa de que o IPCA está bem próximo do teto dessa meta, que é de 6,5%. Se esta barreira for ultrapassada, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá de escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, no próximo ano, para justificar a súbita alteração nos índices, o que representa também reconhecer o insucesso da política monetária.
A declaração de Dilma, numa rápida entrevista após ser vacinada contra a gripe e promover o início da campanha nacional da vacinação, representou uma mudança significativa da postura da presidente diante do risco do aumento dos preços. Desde que assumiu o governo, Dilma tinha se limitado a dizer que não permitiria a volta da inflação e que o País continuaria crescendo.
MANTEGA. Logo pela manhã, Dilma recebeu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para avaliar novas medidas de combate à inflação. As propostas analisadas não são “radicais”, mas apenas pontuais, segundo auxiliares da presidente.
A preocupação dela é segurar o câmbio e conter a valorização do real,mas é aí que todas as iniciativas tomadas até agora têm patinado.
Nas conversas reservadas com sua equipe, a presidente costuma dizer que é importante não deixar parecer que a inflação está fora de controle.
Uma parte da equipe do governo defende uma posição mais clara e forte da presidente na TV e na imprensa para deixar claro o esforço no combate à inflação. Por enquanto, Dilma segue a avaliação de outros assessores que defendem mais cautela, sob argumento de que o problema ainda não é um problema nacional. A declaração de ontem, no entanto, já sinaliza que a presidente pretende deixar claro que sua atenção está voltada para o risco do aumento de preços.
Veículo: Jornal do Commercio (RJ)