Os preços mundiais dos alimentos, em alta de 30% nos dois primeiros meses do ano, ameaçam empurrar milhões de asiáticos para a pobreza extrema e reduzir o crescimento econômico, alertou o Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB, na sigla em inglês).
O aumento dos preços traduziu-se em inflação média de 10% nos alimentos de muitos países asiáticos, o que poderia levar 64 milhões de pessoas à pobreza, segundo relatório do banco. A alta corroerá ainda mais o padrão de vida das famílias que já vivem na pobreza.
Os preços dos alimentos vêm sendo puxados pela alta do petróleo, escassez de produção por problemas climáticos e restrições às exportações, aplicadas por vários países produtores de alimentos.
Se os altos preços de alimentos e petróleo persistirem pelo resto do ano, isso pode cortar até 1,5 ponto porcentual do crescimento econômico dos países em desenvolvimento asiáticos, diz o ADB.
Alguns países serão atingidos mais duramente. Cingapura é mais vulnerável à inflação, porque a pequena cidade-Estado importa todos os alimentos que consome. Já a Coreia do Sul, onde os alimentos representam uma parte menor do índice de preços ao consumidor, será menos afetada.
O aumento no custo dos alimentos é um sério golpe para a região, que se recuperou velozmente da crise econômica mundial.
O declínio nos estoques de grãos, o aumento na demanda dos países asiáticos com grandes populações que vêm ficando mais ricas e a diminuição das áreas de cultivo continuarão mantendo os preços altos no curto prazo.
Também terão impacto a concorrência representada pelo uso de grãos para produzir biocombustíveis e o rendimento estagnado ou em queda das colheitas. A seca no principal área de trigo da China e as enchentes em regiões produtoras de arroz na Ásia reduziram a oferta dessas produtos.
O economista-chefe do ADB, Changyong Rhee, pediu que sejam evitadas proibições às exportações de alimentos e outras medidas de curto prazo. Em vez disso, defendeu mais gastos para melhorar a produtividade agrícola e mais investimento para aperfeiçoar a irrigação, armazenagem de alimentos e obras de infraestrutura.
"A crise alimentícia, se não controlada, corroerá gravemente os recentes ganhos na redução da pobreza obtidos na Ásia", diz o ADB.
As famílias pobres na Ásia são atingidas muito mais fortemente pela inflação dos alimentos porque gastam até 60% da renda em comida, proporção bem maior que nos países desenvolvidos. Os países em desenvolvimento da Ásia possuem quase 70% da população pobre mundial - cerca de 600 milhões de pessoas -, que vive com US$ 1,25 ou menos por dia.
Em contraste, a população dos EUA e outros países ricos gastam cerca de 15% de sua renda em alimentos, o que reduz o impacto do aumento dos alimentos. Além disso, grande parte da comida vendida nos países ricos é processada, de forma que os custos de produção industrial representam uma proporção maior do preço final.
Em fevereiro, os preços mundiais dos alimentos subiram 34,2% em comparação ao mesmo mês de 2010, após a elevação de 28,4% registrada em janeiro, de acordo com o índice referencial da Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO). Os preços de cereais, óleo comestível e carne puxaram a alta do indicador.
A FAO advertiu que 29 países da África, Ásia, Oriente Médio e da América Latina e Caribe precisarão de assistência alimentícia. Afeganistão e Paquistão estão entre os países que se deparam com graves problemas de falta de alimentos, em parte, por fatores como descontentamento social e conflitos étnicos. Camboja e Laos também enfrentam perspectivas desfavoráveis para suas plantações, pela irregularidade e atraso nas chuvas.
Veículo: Valor Econômico