De acordo com a Paraná Pesquisas, 58% dos curitibanos já reduziram despesas, riscando itens do orçamento ou optando por marcas mais baratas
A alta da inflação e da taxa de juros começa a surtir efeito no orçamento da população. A maioria dos moradores de Curitiba já cortou gastos e compras por causa do cenário econômico. Levantamento da Paraná Pesquisas realizado com exclusividade para a Gazeta do Povo mostra que 58% dos consumidores reduziram seu consumo desde o início do ano e 60% pretendem fazê-lo nos próximos meses. A imensa maioria dos entrevistados – 93% – afirma que sentiu os efeitos da inflação e 78%, do aumento dos juros.
Com os reajustes dos preços dos alimentos e de outras despesas, como aluguel, combustível, água e educação, a maioria dos entrevistados disse que está cortando itens do orçamento e trocando marcas mais caras por outras mais baratas.
“Com a inflação ‘bombando’, o consumidor começa a ter mais precaução, contendo despesas e evitando novos gastos. O que é uma medida saudável”, lembra o consultor em finanças pessoais Raphael Cordeiro.
Para o economista Cid Cordeiro, analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o fato de a alta dos preços estar bastante concentrada nos alimentos e em alguns serviços faz com que a inflação esteja muito próxima do cotidiano, dando a ela uma evidência maior. “Mas é claro que os alimentos e os combustíveis, que estão mais caros, têm um peso considerável no orçamento das famílias”, afirma.
Corrosão
Segundo Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, diretor da Paraná Pesquisas, o consumidor é geralmente mais sensível à alta dos preços do que ao aperto no crédito na hora de conter os gastos. “A inflação está no dia a dia. No caso do crédito, mesmo com o aumento dos juros, se a prestação cabe no bolso ele vai continuar a comprar. Já a inflação corrói a renda”, diz.
Desde novembro do ano passado, a inflação vem subindo mais do que a média de salários. Dados do IBGE mostram que em março o rendimento médio real do trabalhador brasileiro ficou em R$ 1.557,00, o que representou um aumento de apenas 0,52% em relação a março do ano passado. Nesse mesmo período, a inflação, medida pelo IPCA, ficou em 6,3%. “Os dissídios salariais levam em consideração a inflação dos últimos 12 meses e a inflação atual é maior do que a passada. Esse fenômeno faz com que o poder de compra seja afetado”, lembra Cid Cordeiro.
Troca
A aceleração dos preços pegou no contrapé uma parte da população que se endividou nos últimos tempos. A cabeleireira Alaíde dos Santos, 49 anos, colocou o pé no freio do consumo para poder manter em dia a prestação do carro e do apartamento. “Eu tive que diminuir meus gastos porque tudo subiu muito e o salário ficou defasado”, conta Alaíde. Se antes ela costumava gastar R$ 300 por semana no supermercado, hoje a conta não passa de R$ 100. O caminho mais comum foi a substituição de alguns produtos – carnes e biscoitos, por exemplo – por outros de marcas mais baratas ou qualidade diferente. O leite foi riscado do cardápio, e a compra de roupas ficou em segundo plano.
A representante comercial Angela Dias Proc, de 36 anos, também encontrou na substituição dos produtos mais caros a forma para driblar a inflação. Na hora das compras no supermercado, a escolha do leite, por exemplo, passou a ser feita de acordo com o preço e não mais com base na marca. O mesmo ocorreu com os produtos de limpeza, que Angela substituiu por similares mais baratos. “Eu troco tudo, inclusive de supermercado, quando encontro preços mais acessíveis”, conta. Segundo ela, entre os itens que mais estão pesando no seu orçamento estão os combustíveis.
“A inflação tem um efeito psicológico sobre o consumo, que pode se manifestar de duas formas. O primeiro é o receio de fazer novas compras. O segundo, mais perigoso, é o de provocar a antecipação do consumo, com medo de novas altas. Foi o que ocorreu no passado e é um fenômeno que ajuda a alimentar a inflação”, lembra Murilo de Oliveira, diretor da Paraná Pesquisas.
Veículo: Gazeta do Povo/PR