Indústria puxa PIB, e 1% vira piso para projeções do 1 º tri

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Produção subiu em março, apesar da queda em 52% dos setores

 

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) dos primeiros três meses deste ano será mais forte do que o desejado pelo governo e esperado pelo mercado. Depois de registrar resultados fracos por dez meses consecutivos desde abril do ano passado, a produção da indústria foi 0,5% maior em março em relação a fevereiro, quando já tinha registrado forte variação de 2% sobre janeiro. O bom desempenho da indústria, influenciada especialmente pelo segmento produtor de máquinas e equipamentos, elevou as projeções de PIB do primeiro trimestre dos analistas que estavam mais pessimistas e consolidou as estimativas dos otimistas.

 

A produção de bens de capital, que já tinha avançado forte entre janeiro e fevereiro (2,2%), aumentou 3,4% em março, contrabalançando o recuo de 0,2% entre os fabricantes de bens intermediários e a queda de 5,3% na produção de insumos típicos da construção civil. A forte concentração em máquinas e equipamentos, no entanto, deixou os economistas céticos quanto à sustentação de um movimento mais prolongado de avanço da indústria no ano - o índice de difusão, que consiste na proporção de segmentos que aumentaram a produção, mergulhou em março, atingindo 48,1%, depois de registrar 66,7% na série dessazonalizada pela LCA Consultores. Isso quer dizer que 51,9% dos setores produziram menos em março do que em fevereiro.

 

Mesmo entre os fabricantes de bens de capital houve concentração. No primeiro trimestre, os fabricantes de máquinas e equipamentos para o segmento de transportes produziram 13,9% mais que em igual período de 2010, e os produtores de bens de capital para o setor da construção civil fabricaram 24,4% mais que entre janeiro e março do ano passado. Já os fabricantes de bens de capital para outros segmentos da economia registraram avanços muito menores. Alguns registraram inclusive recuo na comparação com igual período do ano passado, entre eles os fabricantes de bens de capital para o setor agrícola e de energia.

 

"A elevação de bens de capital é ótima, porque as importações de máquinas e equipamentos também estão crescendo, o que indica que a indústria está investindo, mas os resultados de fevereiro e março precisam ser avaliados com calma", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Tal qual o resultado do mercado de trabalho, que registrou saldo recorde de vagas criadas em fevereiro e um resultado fraco em março, "os dados da indústria vieram muito fortes em fevereiro, e bons em março, quando ocorreu o Carnaval, o que fecha fábricas, mas também aumenta a produção", diz Gonçalves.

 

Em março, a produção de bens de consumo duráveis aumentou 4% em relação ao patamar de fevereiro, puxada pelas montadoras, que no primeiro trimestre fabricaram 5,9% mais automóveis que em igual período do ano passado - quando ainda vigorava a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à indústria automobilística. Na comparação com março de 2010, último mês de incentivos fiscais, a produção da indústria foi 2,1% menor em março deste ano.

 

"As medidas de aperto no crédito e a elevação dos juros já estão fazendo efeito, e devem deprimir o resultado da indústria e da atividade como um todo a partir deste segundo trimestre", avalia Thovan Tucakov, economista da LCA. O resultado da produção industrial nos primeiros meses do ano, surpreendente para bancos e consultorias, fez a LCA revisar sua estimativa de avanço do PIB entre o último trimestre de 2010 e o primeiro trimestre deste ano, que passou de 0,9% para 1%. O resultado do ano, no entanto, continua inalterado - avanço de 3,4% - porque, estima a LCA, o avanço do segundo trimestre será de 0,6%, puxado por resultados mais fracos da indústria. "O nível de estoques é mais alto, o que desincentiva a produção, e também o nível utilização da capacidade instalada permanece estável", diz Tucakov.

 

Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a utilização da capacidade instalada pela indústria de transformação ficou em abril praticamente no mesmo patamar de março - 84,4% e 84,3%, respectivamente. Os fabricantes de bens de capital, que estimularam os avanços da indústria em fevereiro e março, utilizaram menos sua capacidade instalada em abril, ao reduzir de 84,8%, em março, para 84,7%, no mês passado.

 

Para Fernando Rocha, economista da JGP Gestão de Recursos, o forte resultado da indústria no primeiro trimestre "chancelou" sua estimativa de alta de 1,3% do PIB no período. "O ano começou com estimativas muito baixas, com analistas apostando até em crescimento zero entre o último trimestre do ano passado e os primeiros três meses de 2011", diz Rocha. "Agora, com dados importantes da indústria, há convergência para números próximos ou superiores a 1%", observa. A JGP já trabalhava em março com estimativa de 1% para o PIB do primeiro trimestre.

 

"É estranho ver a produção industrial recuar em boa parte de 2010, quando o governo impulsionava a economia, o emprego batia recordes e o PIB cresceu 7,5%, e voltar a crescer neste começo de 2011, depois do governo lançar mão de medidas para contenção do crédito, elevar os juros, cortar gastos, e o ímpeto da economia ser menor", avalia Rocha, que, no entanto, está entre os analistas com estimativa mais otimista para o crescimento do PIB no ano, de 4,2%.

 

Para Gonçalves, do Fator, para quem o PIB crescerá 3,5% em 2011, a concessão de crédito ao consumidor deve manter ritmo acelerado no ano, mas as taxas de juros cobradas nos empréstimos aumentarão muito. Assim, raciocina Gonçalves, "haverá um maior comprometimento de renda com pagamento de parcelas, o que reduz a renda disponível para o consumo de outros produtos, o que deixa o industrial mais cético em aumentar a produção e a contratação de pessoal". Segundo a FGV, a confiança da indústria para os próximos seis meses caiu 1,1% em abril. "Não haverá um recuo brusco da produção", diz Rocha, "apenas um crescimento menos vistoso que o deste início de ano".

 


Veículo: Valor Econômico


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