Redução no prazo afeta mais consumo

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Estudo do Provar, da USP, mostra que varejo é mais sensível à diminuição do número de parcelas do que à alta no juros

 

80% dos consumidores preferem comprar de forma parcelada, revela pesquisa com 500 pessoas em São Paulo

 

O consumidor é mais suscetível à redução do prazo de financiamento do que à alta dos juros. É o que mostra estudo realizado pelo Provar-Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo) a partir de dados do comércio e pesquisa com consumidores.


O Ibevar é formado por executivos de companhias de varejo e diretores do Provar (Programa de Administração de Varejo) da FIA, a quem o instituto é ligado.


O estudo ressalta que a cada ponto percentual de aumento na taxa de juros as vendas se retraem em 0,26 ponto percentual. Se o mesmo aumento ocorrer, entretanto, no prazo de financiamento, as vendas crescem 0,61 ponto percentual.


Para chegar ao cálculo, foi criado um índice para medir, no varejo, o efeito do aumento de juros nas variáveis.


"O impacto nas vendas é maior inclusive no prazo do financiamento do que na renda. Porque, se houver o mesmo aumento percentual na renda, as vendas crescem 0,52 ponto percentual", diz o professor Claudio Felisoni, coordenador do Provar.


Para ter ideia do que isso significa, o Provar calculou o impacto das variações na venda de computadores, por exemplo, levando em conta que 7,15 milhões de notebooks foram vendidos no país em 2010, segundo a Abinee (associação do setor).


Se a renda variar um ponto, seriam vendidos a mais 37.180 equipamentos. Se a taxa de juros sobe um ponto, 18.590 notebooks deixam de ser vendidos. E, se o prazo cresce na mesma proporção, 43.615 notebooks seriam vendidos a mais no ano.


"O resultado serve para ilustrar as dificuldades do governo em conter o consumo. A renda se manteve em alta, e os prazos, apesar das medidas de contenção, continuaram sendo alongados."


Dados do Banco Central citados pelo Provar mostram que o prazo médio nos financiamentos (pessoa física) subiu 13% em fevereiro deste ano (565 dias) em relação a igual mês de 2010 (500 dias).


Em fevereiro de 2009, com efeitos da crise, o prazo chegou a 460 dias. "Se considerarmos que em fevereiro de 2004 o prazo era de 280 dias, ele agora dobrou. O que o consumidor quer é justamente isso: prazo maior significa parcela que cabe no bolso", diz Nuno Manoel Dias Fouto, um dos autores do estudo.

 

PARCELAS
Oito em cada dez consumidores preferem comprar de forma parcelada, segundo pesquisa do Provar feita em março com 500 consumidores da cidade de São Paulo.


A preferência -no caso de produtos como televisores, geladeiras- é a mesma para consumidores que ganham desde meio salário mínimo até acima de três mínimos.


Dados da Associação Comercial de São Paulo, com base no serviço de proteção ao crédito, reforçam a preferência: as vendas a prazo cresceram 7,4% no mês passado ante abril de 2010.

 


Saída é reduzir parcelas, dizem economistas

 

 

Economistas consultados pela Folha consideram que, se o governo quer de fato frear o consumo para conter as pressões inflacionárias, precisa adotar medidas para limitar o prazo de financiamento.


"Uma ação voltada para o prazo é mais eficaz do que apenas subir juros. A alta dos juros afeta não somente o varejo mas a indústria e toda a economia", afirma Fabio Silveira, da RC Consultores.


Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, diz que a estratégia de subir juros, do governo, está correta. "O desafio é a dosagem [da elevação de juros] para poder conter crédito sem desestimular crescimento."


Miguel José de Oliveira, vice-presidente da Anefac, diz que, como o consumidor sente que seu emprego está garantido, que os reajustes salariais têm sido acima da inflação, "sente-se motivado a comprar".


"Do outro lado, encontra prazo longo e crédito fácil, porque a inadimplência está estável. Assim o consumo não se retrai."

 

Veículo: Folha de São Paulo


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