Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento calcula o efeito da alta dos preços internacionais das commodities nos países da AL
O aumento dos preços internacionais dos alimentos deve provocar elevação de até um ponto porcentual na inflação brasileira no final de 2011. As elevações de preços internos tenderão a se estender por seis meses do ano seguinte. Colômbia e México deverão passar pela mesma experiência, segundo um estudo com 13 países da América Latina e Caribe a ser divulgado hoje pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Os resultados do estudo "Como o Choque de Preços dos Alimentos Afeta a Inflação na América Latina e no Caribe" têm como pressupostos a preservação, até o fim deste ano, das cotações das commodities agrícolas ao nível de fevereiro, quando já haviam atingido nível semelhante ao do pico de 2008. Também considera a adoção das mesmas respostas dadas pelos mercados e governos dos 13 países ao longo do ano passado.
Nessas condições, Bahamas, Panamá e Peru deverão sofrer aumento de dois a cinco pontos porcentuais. Bolívia, Guatemala, Honduras e República Dominicana apontam o pior cenário, de aumento superior a cinco pontos nos índices de preços ao consumidor. Países como a Venezuela e a Argentina não foram incluídos por não haver confiança nos seus indicadores de inflação.
Os países se diferenciam claramente pela adoção ou não da política de câmbio flutuante e do regime de metas de inflação. Nos casos do Brasil, do México e da Colômbia, esses são mecanismos eficientes para amortizar o aumento dos preços das commodities agrícolas no mercado interno. Outro alívio vem do fato de esses países serem produtores de alimentos. Segundo o estudo, o Brasil terá "o aumento menos significativo" na inflação gerada pelas cotações internacionais mais salgadas dos produtos alimentícios.
Dilema. O País, porém, deve enfrentar um "sério dilema": a perda de competitividade em outros setores. Para os autores do estudo - os economistas Eduardo Lora, Andrew Powell e Pilar Tavella -, o "verdadeiro desafio" do Brasil e de outros países exportadores agrícolas da região será "fazer um bom uso do fluxo de capitais" para reforçar a competitividade em médio prazo.
Além disso, deixar suas moedas flutuarem para cima não só permitirá anular parte do impacto do preço internacional dos alimentos nos indicadores internos de inflação. Também tornará desnecessária a opção por medidas de proteção comercial.
"A perda de competitividade é claramente um risco para Brasil, Colômbia, México e Paraguai, que parecem absorver os impactos dos preços internacionais por meio de amplas valorizações da taxa de câmbio", diz o estudo. "Os países terão de fazer concessões em seus objetivos: na proteção dos preços internos ou na proteção da competitividade de outros setores da valorização da taxa de câmbio", completa.
Andrew Powell, conselheiro do Departamento de Pesquisa do BID, enfatiza a necessidade de uma resposta mundial para o estímulo à produção agrícola e para evitar políticas inadequadas que, assim como em 2008, também pressionaram as cotações para cima. Entre elas, as proibições de exportações agrícolas e as tentativas forçadas de aumento de estoques, consideradas geradoras de efeitos "temporários e distorcivos". Uma resposta coordenada dos países da América Latina, acrescentou Powell, poderia igualmente aliviar a situação regional.
Veículo: O Estado de S. Paulo