Sudeste perde fatia no consumo nacional

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Maior mobilidade social da classe D para a C e da C para B em outras regiões do País provoca migração das compras, aponta estudo

 

O consumo das famílias brasileiras, que envolve desde gastos com alimentos, despesas com refeições, com artigos de vestuário e até a prestação da casa própria, está se desconcentrando. O Sudeste, o principal polo econômico, deve perder neste ano R$ 12 bilhões de participação no bolo total de compras do País, projetado em R$ 2,5 trilhões para 2011.

 

Os dados são do estudo IPC Maps, feito pela IPC Marketing Editora, e obtido com exclusividade pelo Estado. No estudo consta o Índice de Potencial de Consumo (IPC) para os 5.565 municípios brasileiros.

 

Essa bolada que seria gasta com compras no Sudeste deve migrar para outras regiões, onde o movimento de ascensão social para as classes B e C tem sido mais intenso, como no Centro-Oeste. Nessa região, o consumo das famílias deve aumentar R$ 4,6 bilhões este ano, seguido pelo Sul, com um acréscimo de R$ 4,1 bilhões, e as Regiões Norte e Nordeste com aumentos de R$ 2,4 bilhões e de R$ 812 milhões, respectivamente.

 

"O Sudeste será a única região com perda de participação no consumo nacional em 2011, apesar de responder por 52,2% do total gasto com compras", diz Marcos Pazzini, responsável pelo estudo. Ele projetou o potencial de consumo dos brasileiros, que deve crescer em 2011 quase 12% ou R$ 250 bilhões em relação a 2010, com base nas contas nacionais e na estrutura de gastos da população medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram cruzados com informações paralelas, de outras fontes de pesquisa, levando-se em conta que o Produto Interno Bruto do País aumente 4,3% este ano.

 

Na análise de Pazzini, o avanço do potencial de consumo das demais regiões em relação à perda do Sudeste é explicado pela maior mobilidade social nessas outras regiões. Um número maior de brasileiros ascendeu da classe D para a C e da C para B, de 2010 para este ano, nas Regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul, comparativamente à Região Sudeste. E isso aumentou o potencial de compras nessas regiões.

 

Entre 2010 e 2011, o potencial de consumo das classes B e C dos que vivem no Sudeste cresceu 1,2 ponto porcentual, abaixo da média do País (1,7 ponto porcentual). Nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, os acréscimos foram de 3,6 pontos porcentuais; 2,2 e 2 pontos porcentuais, respectivamente, de 2010 para 2011.

 

Migração. Prestadores de serviços e empresas do varejo já perceberam a mudança que vem ocorrendo no mapa do consumo.

 

Metade das 27 franquias que a Giraffas, quarta maior rede de restaurantes do País, deve inaugurar até o fim deste ano estão localizadas fora dos grandes centros da Região Sudeste, entre Rio de Janeiro e São Paulo, conta o sócio e diretor executivo da empresa, Cláudio Miccieli.

 

A rede está avançando para cidades do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e interior do Estado de São Paulo. Ela vai abrir restaurantes em cidades como Imperatriz, no Maranhão; Gurupi, Tocantins; Trindade e Cidade Ocidental, em Goiás. Nessa lista de inaugurações previstas até o fim do ano e que vão absorver investimentos de R$ 19 milhões, constam unidades em Fortaleza (CE), Manaus (AM), Palmas (TO), Campo Grande (MT) e Campina Grande (PB). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, estão cidades do interior, como Campo dos Goytacazes (RJ), Indaiatuba (SP)e Barretos (SP).

 

"Até o fim do ano, vamos estar no Acre e no Amapá", promete o executivo, que revela ter, além dessas, mais 12 franquias em fase de negociação. Na análise do empresário, o movimento de desconcentração do consumo foi desencadeado pela estabilização da economia, que levou investimentos de vários setores para as cidades do interior do País.

 

Com melhora no nível de emprego e mais renda no bolso, diz ele, a mobilidade social das classes de menor renda para as de maior poder aquisitivo ganhou força. E, neste caso, impulsionou não apenas a compra de bens, mas também despesas com alimentação fora de casa.

 

Estreia. Na quinta-feira, a Scala, fabricante de lingerie sem costura, que pertence ao Grupo Scalina, também dono da marca Trifil, abre a primeira loja em Rio Verde, em Goiás, cidade na qual a economia está crescendo aceleradamente por causa do agronegócio. É a 102.ª franquia da rede, que está em todos os Estados, menos no Acre e em Roraima.

 

Victor Serra, presidente do grupo, conta que, cinco anos atrás, o Grupo decidiu mapear o potencial de consumo do mercado brasileiro e optou por desconcentrar a sua expansão. Hoje, das 102 lojas, 23% delas estão localizadas no eixo Rio/São Paulo.

 

E pelos planos da companhia, essa estratégia se mantém. "Neste ano, o grupo deve abrir entre 25 e 30 franquias da marca Scala e 70% das lojas estarão fora do eixo Rio/São Paulo", conta.

 

Entre os focos de atuação, Serra diz que, em primeiro lugar, estão as cidades da Região Nordeste, seguidas pelos municípios do interior de São Paulo e do Centro-Oeste. "No interior de São Paulo, uma das nossas prioridades é Sorocaba."

 

 

Veículo: O Estado de S. Paulo


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