A crise financeira externa exerceu os primeiros efeitos sobre os resultados da balança comercial brasileira. Em setembro, na comparação com o mês de agosto, os preços de exportação registraram queda de 2,1% e os preços de importação recuaram 0,7%, de acordo com dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Também houve retração no volume comercializado de commodities - consideradas um termômetro para medir a demanda global futura. É o caso, por exemplo, dos produtos da exportação de petróleo, cujo índice de preços de exportação apresentou queda de 14,7% e o índice de quantum teve redução de 33,5% em setembro comparado a agosto. O índice de preços de importação recuou 7% e o índice de volume, 23,6% no mesmo intervalo.
A expectativa de economistas é que os índices registrem piora em outubro, tendo em vista as quedas registradas no mercado externo. Neste mês, dentre os principais itens exportados pelo Brasil, houve queda nas cotações internacionais de açúcar (17,72%), café (16,47%), soja (15,51%), suco de laranja (10%), alumínio (20,26%), cobre (42,04%) e petróleo WTI (37,18%), segundo cálculo do Valor Data. O índice CRB, que avalia o desempenho das 24 commodities mais negociadas nas bolsas, acumula queda no mês de 25,28%.
O economista da Funcex Fernando Ribeiro observou que o efeito sobre as commodities é mais rápido, já que são o primeiro elo da cadeia e, diante da perspectiva de retração da economia, são os primeiros produtos a terem a demanda reduzida. "Mas os preços dos manufaturados também recuaram em setembro [-0,6% em relação a agosto] e certamente recuarão mais em outubro", salientou. Já os itens que têm preço definido em contrato, incluindo o minério de ferro (que é commodity), disse, apresentarão queda mais significativa no próximo ano. A redução dos volumes negociados ocorrerá no médio prazo, segundo Ribeiro. "Em 2008, o quantum importado pelo Brasil deve crescer cerca de 22% e o das exportações ficará próximo de zero", projetou.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, calcula que a média diária de exportações nos próximos meses caia para algo próximo a US$ 700 milhões, por conta da deterioração dos preços internacionais das commodities. Até agosto, a média foi de US$ 900 milhões, sendo que na segunda semana de setembro houve aumento para US$ 1 bilhão por conta do embarque de uma plataforma de petróleo. "Sem essa exportação, a média já teria caído para US$ 800 milhões, que foi o patamar observado nas semanas seguintes", afirmou.
As exportações sofreram efeito mais significativo que as importações devido à natureza dos produtos negociados, segundo Castro. "Boa parte dos itens importados são manufaturados e estão sujeitos a preços definidos em contrato, que não podem ser quebrados no curto prazo", afirmou. O efeito mais forte sobre importações será notado com mais clareza a partir do próximo ano, disse. A AEB reduziu em
US$ 1 bilhão a sua projeção para o saldo da balança comercial deste ano, para US$ 23 bilhões.
O economista da RC Consultores Fábio Silveira observou que alguns itens tiveram pequena queda no volume, tanto nas importações como nas exportações (petróleo, têxteis, madeira, produtos químicos e máquinas e equipamentos) e a tendência é que haja redução nos volumes exportados no quarto trimestre. A RC projeta um saldo da balança de US$ 25 bilhões neste ano e de US$ 8 bilhões em 2009, com exportações de US$ 195 bilhões em 2008 e US$ 160 bilhões no próximo ano. "A economia internacional está enfraquecendo. O mesmo canal que permitiu ao Brasil ter uma reação a partir de 2004 levará o país a um enfraquecimento da atividade em 2009", afirmou.
As projeções da RC consideram uma queda do PIB americano de 1% e preços de commodities ainda acima da média histórica. "Se os preços voltarem aos patamares históricos, há risco de déficit na balança comercial", disse Silveira. Ele prevê ainda declínio nas importações a partir de outubro, já que, além de manufaturados, o país compra commodities que também já têm redução de preços no exterior, como aços especiais, papel, óleo diesel e produtos petroquímicos. Mas o efeito mais forte no curto prazo ainda será sobre os itens de exportação, disse o economista.
André Sacconato, economista da Tendências Consultoria Integrada, prevê retração no volume de itens exportados apenas no próximo ano e não acredita em queda das importações. "O Brasil ainda cresce acima da média de outros países, o que vai provocar redução no saldo da balança comercial", apontou. A Tendências projeta para 2009 saldo de US$ 11 bilhões na balança, ante US$ 25 bilhões neste ano, com US$ 211 bilhões em exportações (US$ 7 bilhões a mais) e alta das importações em US$ 20 bilhões, para US$ 199 bilhões.
Veículo: Valor Econômico