Alimentos e bebidas puxam pressão inflacionária, diz Ipea

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Há quatro anos os setores de alimentos e bebidas são responsáveis pela pressão inflacionária no País, aponta a análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na direção contrária, os reajustes de contas como luz, água e gás puxaram para baixo a inflação desde 2007.

 

A análise tem como foco a decomposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apontando quais são os grupos de preços mais influentes. O estudo foi feito por meio do Índice de Pressão sobre a Meta de Inflação (IPMI) que mede a contribuição de cada bem ou serviço para o desvio do IPCA.

 

"Em 2007 a alta de preços das commodities intensifica-se ao mesmo tempo que a política de acumulação de reservas dissipa parte da pressão para apreciação do câmbio. Nos anos de 2007, 2008 e 2010 a variação dos alimentos e bebidas foi superior a 10% ao ano. Apenas em 2009 os preços cresceram em ritmo abaixo do centro da meta, em virtude da queda dos preços de commodities com a crise internacional. Mas, em 2010, tais preços já recuperaram o patamar anterior."

 

"É claro que se trata de um movimento estrutural de mudança de preços relativos e não apenas de um aquecimento conjuntural de demanda. Para 2010 há indícios mais claros de pressões inflacionárias no setor de serviços resultantes do aquecimento excessivo da economia", frisa Vanessa Petrelli de Correa diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas da entidade.

 

"Por fim, assim como os monitorados (contas de consumo em geral), os produtos industrializados também passaram a ter uma evolução mais favorável ao controle da inflação. Seus preços foram contidos pela apreciação do câmbio, mas também por ganhos de produtividade na indústria de bens de consumo duráveis, especialmente na automobilística", completa Thiago Sevilhano Martinez, técnico do Ipea.

 

Para Correa, o maior peso, cerca de 12% do IPCA, é o dos alimentos e bebidas do tipo comercializáveis. A evolução doméstica desses preços é orientada pelas cotações internacionais de commodities e pelo câmbio.

 

Os dados da pesquisa apontam que entre 2007 e meados de 2009, a taxa de variação acumulada em 12 meses esteve acima do IPCA, frequentemente acima de 10% e chegando a mais de 16%. Permaneceu abaixo do IPCA de julho de 2009 até o último trimestre de 2010, quando retornou para o nível superior a 10%. No início de 2011 a taxa de variação dos preços de alimentos começou a recuar, mas ainda ficou elevada.

 

" Os efeitos da alta internacional dos preços de commodities sobre os alimentos comercializáveis nos últimos anos, com a exceção de 2009, e do fortalecimento do mercado interno e aquecimento da economia sobre o grupo como um todo têm levado as taxas de variação dos preços de alimentos e bebidas a níveis muito acima da meta de inflação", relata Martinez.

 

Despesas Pessoais

 

O subgrupo dos serviços que mais tem pressionado o IPCA é o das despesas pessoais, principalmente o item serviços pessoais, que nesse período sempre respondeu por no mínimo um terço de toda a pressão dos serviços. O sub item mais importante dos serviços pessoais é empregado doméstico, cujo peso médio no IPCA é de 3,15%. Junto com cabelereiro, manicure e pedicure, cujo peso é de 1,28%, totaliza 4,43%, a maior parte dos 5,3% do peso de serviços pessoais.

 

"O forte aumento dos preços dos serviços decorre de mudanças estruturais na economia brasileira relacionadas à melhora da distribuição de renda e redução do desemprego, mas se torna mais intenso nos anos em que a economia está aquecida.", explica Correa. Que completa: "A variação dos preços de alimentos e bebidas não-comercializáveis fora do domicílio esteve por volta de 7,7% em 2007 e 2009, mas em 2008 e 2010, anos de crescimento econômico mais vigoroso, foi 12% e 9,8% respectivamente. O mesmo ocorre com os serviços pessoais: sua taxa de variação foi próxima a 7,5% em 2007 e 2009 e ao redor de 9,5% em 2008 e 2010. Para a maioria dos outros componentes dos serviços e para o grupo como um todo, esse aquecimento aparece com mais força no ano de 2010 especificamente", pondera a diretora do Ipea.

 

Combustíveis

 

A categoria combustíveis, que abrange os veiculares e os domésticos, tem ajudado a controlar a inflação no período analisado. Em 2007, 2008 e 2010 sua taxa de variação esteve abaixo inclusive da banda inferior da meta de inflação, apresentando IPMI negativo entre -0,30 e -0,15.

 

"Nos últimos quatro anos as taxas de variação dos preços monitorados têm em geral se mantido abaixo do centro da meta e auxiliado a segurar a inflação, com exceção de 2009. Tal resultado se deve principalmente aos preços de combustíveis, telefonia e energia elétrica", diz Martinez.

 

Para 2011 as perspectivas de evolução dos monitorados são pessimistas. O IPMI do grupo era igual a -0,38 em dezembro e foi a 0,43 em junho de 2011, aumento de 0,81 pontos, o maior dentre os quatro grandes grupos.

 


Veículo: DCI


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