O cenário de incertezas gerado pelo agravamento da crise financeira e a percepção da redução do ritmo de crescimento da demanda global levaram o Índice de Confiança da Indústria (ICI) ao menor patamar desde janeiro de 2007, quando atingiu 104,6 pontos. Em setembro e outubro deste ano, o indicador, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 11,7% de 120,2 para 106,1 pontos, sem ajuste sazonal.
De acordo com o coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Aloisio Campelo, o índice do mês passado, embora em patamar ainda elevado, já detectava sinais de desaceleração de atividade. Em outubro, a forte queda na confiança da indústria -- a maior desde outubro de 2005 indica também um pessimismo em relação aos próximos meses.
"Não há sinal de recessão, mas de desaceleração", ressaltou o economista. O Índice de Expectativa (IE) dos industriais despencou 13,8% na comparação com igual mês do ano passado, para 100 pontos. "O indicador caiu para um patamar abaixo do nível histórico em outubro, é uma sinalização de desaceleração e de que empresário se tornou pessimista", disse, acrescentando que não é possível saber quanto o cenário pode estar relacionado à volatilidade do momento.
A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela FGV, foi realizada entre os dias 1 e 27 deste mês. A pesquisa abrange 1.101 empresas, com faturamento de R$ 569,1 bilhões e mais de 1,28 milhão de empregados. Entre os componentes do índice de expectativas, o indicador sobre a situação dos negócios nos próximos seis meses apresentou queda de 17,9% em relação a outubro do ano passado, para 124 pontos. Segundo a sondagem, o proporção de empresas que prevêem melhora no período caiu para 37%, ante 58% em igual mês de 2007 e 53% em setembro deste ano. Entre os que projetam piora da situação, o percentual subiu para 13%. No mês anterior, eles representavam apenas 5% dos empresários consultados e, em outubro do ano passado, 7%.
Também diminuiu a parcela de industriais que esperam uma produção maior no próximo trimestre, passando de 48% em setembro deste ano e 43% em outubro de 2007 para os atuais 33%. Em relação ao emprego, o percentual de empresas que prevêem aumento da força de trabalho no período caiu de 34% para 26% em um ano, enquanto a fatia que projeta redução nas contratações aumentou de 6% para 10%.
Demanda
Com uma piora na avaliação sobre o nível de demanda global, o Índice sobre a Situação Atual (ISA) também apresentou forte queda, de 13,9%, atingindo 112,5 pontos, em relação a outubro do ano passado. "Já está acontecendo uma desaceleração da demanda interna, mas ela está em patamar ainda alto e continua sendo o sustentáculo. A demanda externa está em nível historicamente fraco", comentou.
O indicador que avalia o atual nível de demanda global caiu 12,1% na comparação anual. O percentual de empresas que consideram a demanda (interna e externa) forte passou de 29¨% para 19%, e a parcela que avalia que ela está fraca passou de 5% para 10%. Com isso, o indicador ficou em 109 pontos. A percepção de uma demanda menos favorável, antes mais restrita em relação ao mercado internacional, também começa a se estender ao ambiente interno. A avaliação em relação à demanda interna registrou 115 pontos, queda de 9,4% na comparação com o ano passado. A parcela daqueles que a consideram forte caiu de 31% para 24%, enquanto o percentual dos que avaliam que a demanda está fraca subiu de 4% para 9%.
Em relação à demanda externa, que representa 25% das vendas empresas, o índice ficou abaixo dos 100 pontos, e fechou em 93 pontos. Segundo a pesquisa, 6% dos industriais avaliam que os pedidos internacionais são fortes, ante 21% em outubro do ano passado.
A fatia que considera a demanda externa fraca, por sua vez, passou 9% para 13%. A sondagem mostra ainda que 26% das empresas avaliam que a situação atual de negócios é boa, ante 42% em outubro de 2007. Do total de entrevistados, 9% a consideram fraca, percentual superior aos 5% do ano passado.
Veículo: Gazeta Mercantil