A confiança das indústrias já foi afetada negativamente pela crise financeira, é o que diz o Índice de Confiança da Indústria (ICI) do mês de outubro, que prevê desaceleração da demanda interna e externa nos próximos meses. Diante dessa expectativa, as indústrias não vêem espaço para aumentar os preços, mesmo com a alta recente do dólar.
O estudo de confiança, divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas, registrou queda de 11,7% no ICI em relação a setembro, passando de 120,2 para 106,1 pontos, na série sem ajuste sazonal. Outros índices que compõem o acompanhamento da confiança também apresentaram reduções. O Índice da Situação Atual (ISA), recuou de 127,5 para 109,4 pontos e o Índice de Expectativas (IE), de 114,1 para 101,5 pontos.
Para o coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Aloisio Campelo, "não há sinais de recessão, porém o sentimento de crise já afeta o operacional" das empresas. Ele explica que a queda no ICI é "forte" e mostra que já há sinais de desaceleração na economia brasileira.
Entres outros motivos que ajudam a explicar a redução na confiança do empresário destacam-se a queda na expectativa para a demanda externa, a percepção dos negócios para os próximos seis meses e as condições de crédito para as empresas.
Na avaliação de Campelo, o quadro de incerteza em outubro influenciou os resultados. "Pode estar havendo um surto de cautela. Algumas empresas que estavam demandando aço, celulose, ou que estão comprando televisores, automóveis, podem estar influenciadas pelo momento de incerteza e por isso cancelaram momentaneamente os pedidos, ou seja, diminuíram em outubro para ver o que acontece", afirmou.
Essa incerteza momentânea marca as previsões em relação à situação dos negócios para os próximos seis meses. O indicador mostrou queda de 16,2%. "É a pior previsão dos empresários desde a recessão de julho de 2003", diz Campelo, que prevê investimentos e contratações mais moderados para o próximo período. "Não voltaremos ao patamar de confiança tão rapidamente. As indústrias estão passando do otimismo moderado para o pessimismo", acrescenta.
A pesquisa registrou ainda piora elevada no trimestre nas condições de crédito. O grau de exigência que os bancos estão impondo aumentou em 30%, enquanto no trimestre anterior apresentava recuo de 11%. O quadro atual é comparável às condições para obtenção de crédito em julho de 2003, quando a economia se recuperava de um período de recessão no país. "A indústria em 2003 estava insatisfeita com as taxas de juros, hoje há também a falta de liquidez, um dos efeitos da atual crise", observa Campelo. Os principais setores que reclamam da falta de crédito nos bancos são os de materiais de transportes, materiais plásticos, mecânica e metalurgia.
O estudo aponta ainda que as intenções de reajustes nos preços devem baixar em relação ao último trimestre (julho-setembro). Na indústria de transformação, no trimestre anterior, 41% das empresas projetavam aumento de preços, percentual que caiu para 22%; em bens intermediários, passou de 52% para 14%, em bens de consumo de 43% para 38%, e em bens de capital de 28% para 19%.
Veículo: Valor Econômico