Serviços sustentam crescimento do PIB

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Amparado pela força do mercado de trabalho, o setor de serviços passou a puxar o crescimento da atividade econômica nos últimos anos. Com peso de mais de 67% no Produto Interno Bruto (PIB), o segmento mostra dinamismo num momento em que a indústria padece com a concorrência dos produtos importados e a dificuldade de exportar. Neste ano, os serviços crescem a um ritmo menor do que em 2010, mas são de longe o setor com melhor desempenho pelo lado da oferta: no primeiro semestre, avançaram 3,7% sobre o mesmo período do ano passado, mais que os 2,6% da indústria e o 1,4% da agropecuária. Os maiores destaques têm sido os segmentos de serviços de informação (como telefonia e informática) e o de intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

 

O desemprego baixíssimo e o rendimento em alta impulsionam a demanda por serviços, que praticamente não sofrem com a competição estrangeira, hoje favorecida pelo câmbio valorizado, como se vê na indústria. "Há uma mudança no perfil da demanda nos últimos anos, com forte aumento do salário real, que sustenta a expansão dos serviços", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

 

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, vê também uma alteração estrutural que impulsiona os serviços. Há, segundo ele, uma elevação na renda per capita nos grandes centros urbanos, num cenário de desemprego baixo. Isso eleva a demanda por serviços de informação como telefonia e banda larga, assim como a procura por mais crédito e por produtos como planos de previdência complementar, diz Borges. Também ganham alento os chamados outros serviços, que incluem atividades como os serviços prestados às empresas e às famílias, restaurantes, hotéis e clubes. "As pessoas viajam mais e comem mais fora de casa." Essa categoria representa quase 15% do valor adicionado da economia, o segundo item do grupo de serviços com maior peso - o primeiro é administração, saúde e educação públicas, com 16,5%. Comércio vem em terceiro, com quase 12%.

 

A importância decisiva do setor de serviços para a atividade fica evidente quando se compara a evolução desde o terceiro trimestre de 2008 - momento em que a crise global ainda não havia batido com força sobre o Brasil - e o segundo trimestre deste ano, na série com ajuste sazonal. Nessa comparação, o PIB cresceu 7,8%, puxado pela alta de 9,1% dos serviços. De lá para cá, a indústria geral cresceu 2,6% - com a de transformação em queda de 0,45% - enquanto a agropecuária avançou 0,9%. "Depois da crise, o mercado interno ganhou mais força na economia brasileira", diz Borges.

 

Ao mesmo tempo em que os serviços tomaram fôlego, a indústria entrou num momento complicado. A demanda externa por produtos manufaturados caiu, com o baixo crescimento nos países desenvolvidos, e as importações passaram a incomodar ainda mais, num quadro de câmbio valorizado e em que o Brasil passou a ser um dos países que mais crescem.

 

O resultado é que os serviços passaram a ter um peso maior na determinação do PIB, como diz o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira. Durante muito tempo, a produção industrial mostrou uma forte correlação com o PIB, ainda que tenha uma participação bem menos expressiva na economia. Nos últimos trimestres, porém, a atividade tornou-se menos dependente do setor industrial, observa ele. O resultado do segundo trimestre do PIB deixa isso claro - a economia cresceu 0,8% em relação ao primeiro, com uma alta de 0,8% de serviços, um avanço de 0,2% na indústria e um recuo de 0,1% na agropecuária.

 

O economista Silvio Sales, consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV), nota que o setor de serviços também passa por um momento de desaceleração, como toda a economia, resultado do aumento dos juros, das medidas de restrição ao crédito e do maior esforço fiscal. A questão é que a perda de ritmo no segmento é bem mais suave do que na indústria, dada a força do mercado de trabalho. "A expansão dos serviços acima da média deve persistir nos próximos trimestres."

 

O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, destaca a força do mercado interno, ressaltando a importância do setor na geração de empregos. De janeiro a julho, foram criados 577,6 mil postos de trabalho formais em serviços, o dobro das 288 mil vagas da indústria.

 

Veículo: Valor Econômico


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