O varejo faz a festa

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Enquanto a indústria amarga prejuízos por causa da entrada dos importados, lojistas comemoram os bons negócios registrados durante o ano. Inflação de 6,38% não incomoda

 

A revisão do Banco Central de nova alta da inflação em 2011, desta vez para 6,38%, não vai interromper os planos da aposentada Ermelinda Maria Rocha, de 60 anos, de reformar todo o seu antigo apartamento, no Centro de Belo Horizonte. A nova alta projetada pelo BC também não impedirá Acedilio Éder Santos, de 31, responsável pelas obras, de continuar comprando o perfume importado de que tanto gosta e cujo frasco de 90 mililitros custa R$ 380. Eles vêm ajudando o comércio a trilhar caminho oposto ao da indústria. Enquanto a classe produtiva lamenta seguidas perdas, o varejo e o atacado acumulam altas, conforme três pesquisas nacionais divulgadas ontem.



O primeiro estudo, da Serasa Experian, destaca que o movimento de consumidores no comércio do país saltou 9,5% entre janeiro e agosto. Já o da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apurou que as consultas ao serviço de proteção ao crédito (SPC), que refletem em certa medida o nível de atividade no setor, avançou 5,72% no confronto entre os oito primeiros meses de 2010 e igual período deste ano e subiu 8,37% na comparação entre agosto e o mesmo mês do ano anterior.



Por fim, o levantamento da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) revelou que as vendas nos centros comerciais saltaram 10,97% nos primeiros sete meses. Até o fim de dezembro, a expansão prevista para os negócios do setor é de 12%, segundo pesquisa encomendada à TNS Research International. “Aquilo que prevíamos em relação à expansão do varejo no segundo semestre está se confirmando, com o brasileiro comprando bastante em função do emprego. É o consumo interno que está sustentando a economia”, analisou o vice-presidente da CNDL, Vitor Augusto Koch.



É a mesma análise da economista Ana Paula Bastos, da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH): “As vendas do comércio sustentam o Produto Interno Bruto (PIB), pois, mesmo com a medida do BC para conter o empréstimo, o volume de crédito vem crescendo. Aliado a isso, há o aumento da renda e o do emprego”. Em BH, o último levantamento da CDL, referente ao primeiro semestre, mostrou que os negócios acumularam alta de 6%. Até o fim do ano, quando o setor será beneficiado pelo pagamento do 13º salário dos trabalhadores e pela restituição do imposto de renda (IR), Ana Paula acredita que as vendas no comércio da cidade vão registrar aumento de 7% a 8%. “Pode até ser um pouco maior.”



Tanto o estudo da CDL quanto o da Serasa mostram que a construção civil é o principal destaque do comércio neste ano. Na pesquisa da primeira entidade, as vendas do item ferragens, material elétrico e construções subiram 9,42%. No levantamento da segunda instituição, o movimento de consumidores nas lojas de construção civil avançaram 11,8%. A aposentada Ermelinda Maria ajudou o setor, comprando diversos materiais para a reforma de seu apartamento, construído há 50 anos e que jamais havia recebido nova roupagem.



“O imóvel era todo original. O piso da cozinha estava estufando. Precisava de uma reforma. Comprei os materiais à vista, pois, assim, consigo desconto de, geralmente, entre 9% e 10%. Quando compro no cartão de crédito, pagou de duas vezes, ou seja, sem juro”, explica a senhora que se aposentou como técnica em contabilidade dos Correios. Parte do dinheiro usado na reforma do apartamento irá para o pagamento da pequena empresa de obras de Acedilio Éder, fã de uma marca importada de perfume.



IMPORTADOS  Jovem e trabalhador, o empreiteiro também compra roupas produzidas fora do país. Se de um lado os importados limitam o crescimento da indústria, do outro fazem a festa de alguns setores do comércio, como o supermercadista. No estudo da Serasa, estas empresas acumulam alta de 5,2%. Para a Associação Mineira de Supermercados (Amis), o faturamento no setor deve gerar 8 mil empregos e atingir R$ 14 bilhões este ano – valor 6% maior que os R$ 13,2 bilhões apurados em 2010.



“Os importados têm peso substancial no nosso faturamento. Isso se deve a alguns fatores, como o aumento do poder aquisitivo das classes C e D, à alta da renda e (à expansão) do emprego. Os importados, que antes ficavam no campo do desejo, agora são total realidade”, compara Adilson Rodrigues, superintendente da Amis.

 

Imposto de Renda e 13º combatem risco de calote



Apesar de o comércio apurar aumento nas vendas no acumulado do ano, um antigo problema do setor também avançou no período. Trata-se da inadimplência, que subiu 6,37% na comparação entre agosto e o mesmo mês 2010, segundo a CNDL. É o sétimo crescimento consecutivo nesta base de comparação. No acumulado do ano, a alta é de 5,14%. Mas, segundo especialistas, não há motivo para pânico, pois a primeira parcela do 13º salário chegará ao comércio em novembro.



“O 13º beneficia demais o comércio, pois muitos inadimplentes aproveitam o dinheiro para limpar o nome, o que abre mais crédito. Isso é clássico”, afirma Ana Paula Bastos, economista da CDL-BH. Para se ter ideia, em dezembro passado, o número de consumidores que limparam o nome foi 42,8% maior do que os que fizeram o mesmo em novembro.



A restituição do Imposto de Renda, cujo quarto lote estará disponível para consulta na próxima sexta-feira, também ajuda nessa redução. Até o fim do ano, serão pagas outras três parcelas (outubro, novembro e dezembro). Não há dúvidas: limpar o nome é o melhor investimento a ser feito com o 13º ou com a restituição do IR.



E o nome limpo é a senha para que a compra a prazo, que responde pela maior parcela das vendas em BH, continue em alta. Na avaliação do vice-presidente da CNDL, Vitor Augusto Koch, o lojista não precisa se desesperar diante dos dados divulgados ontem pela entidade. “Os números ensejam cautela, mas não quer dizer que há razão para pânico. O maior nível de inadimplência quer dizer que mais pessoas estão passando por um aperto momentâneo. Não é calote.”

 


Veículo: O Estado de Minas


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