Real está perto de zerar valorização registrada este ano

Leia em 2min 40s

A R$ 1,650 (cotação de ontem), moeda americana pode recuperar os 0,84% que faltam para chegar aos R$ 1,664 de 31 de dezembro


A surpreendente queda de juros promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e os sinais de deterioração da economia mundial provocaram uma mudança brusca na trajetória da moeda brasileira. O real está próximo de zerar sua valorização e recuperar o patamar do início do ano.

O dólar fechou ontem cotado a R$ 1,650, alta de 0,86%, e no maior nível desde 29 de março. Se seguir nessa toada, a moeda americana pode recuperar a qualquer momento os 0,84% que faltam para chegar a R$ 1,664 - fechamento de 31 de dezembro do ano passado.

Depois da decisão do Copom, divulgada em 31 de agosto após o fechamento do mercado, a moeda americana já perdeu 4,21% de seu valor em relação ao real. É uma trajetória completamente diferente do início do ano até o fim de agosto, quando acumulava alta de 3,51%.

"Estamos assistindo a uma fuga para ativos mais líquidos à medida que se avolumam as indicações do fraco desempenho dos Estados Unidos e da Europa", diz André Perfeito, economista da Gradual Investimentos. Mesmo com feriado nos Estados Unidos, mercados de ações em todo o mundo despencaram ontem.

Os investidores ficaram preocupados com a pesquisa sobre emprego nos Estados Unidos, mostrando que a geração líquida de empregos foi nula em agosto. A notícia aponta preocupações com o desempenho da maior economia do mundo e seus efeitos na recuperação global.

Pode parecer irônico, mas em momentos de tensão com a economia americana os investidores fogem para ativos de maior liquidez, como o dólar. Daí a valorização da moeda americana em relação a diversas divisas no mundo, incluindo o real.

Também colabora para a queda do real as medidas adotadas pelo governo para elevar o IOF sobre o capital especulativo e a polêmica decisão do BC de cortar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto porcentual para 12%, quando a maior parte do mercado esperava manutenção.

O corte brusco da Selic diminuiu a diferença entre os juros praticados no Brasil e no exterior, reduzindo a lucratividade das operações de arbitragem conhecidas como "cupom cambial". Como a diferença ainda é muito grande - os juros estão zerados no exterior -, o efeito não é tão imediato e a operação ainda é bastante lucrativa.

Mas, de acordo com operadores de câmbio que preferiram não se identificar, o movimento abrupto do BC indica a disposição do governo Dilma de reduzir os juros e os investidores já podem estar apostando nisso. Para consolidar essa posição, o mercado aguarda a divulgação da ata da reunião do Copom, que ocorre esta semana.

Outro fator relevante, na visão do mercado, é a perda de credibilidade do BC. Os investidores começam a acreditar que o banco não está mais comprometido com o combate da inflação. "O mercado perde a confiança no BC e na política do Brasil, o que se reflete no valor da moeda", disse um operador.

Nos bastidores, o governo federal está comemorando o efeito do corte de juros sobre a taxa de câmbio, porque a desvalorização do real ameniza os danos sofridos pela indústria nacional com a entrada de importados.


Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Atividade comercial tem alta de 6,3% em julho e inadimplência cresce 5,1%

O comércio varejista apresentou expansão de 6,3% no mês de julho, em comparação ao mes...

Veja mais
Mercado pede dólar a R$ 1,89 para fortalecer manufaturados

O mês de setembro começou pessimista quanto ao comércio exterior brasileiro no curto prazo. Ao menos...

Veja mais
O varejo faz a festa

Enquanto a indústria amarga prejuízos por causa da entrada dos importados, lojistas comemoram os bons neg&...

Veja mais
Serviços sustentam crescimento do PIB

Amparado pela força do mercado de trabalho, o setor de serviços passou a puxar o crescimento da atividade ...

Veja mais
Cauteloso, comércio adia encomendas

Com o desaquecimento da economia, as lojas projetam movimento mais modesto no fim do ano, com alta de no máximo 5...

Veja mais
Governo de Dilma renegocia desoneração

Cada setor tem demanda própria; presidente ainda estuda alternativas ao BNDES para financiar empresas, entre elas...

Veja mais
Brasil ''exporta'' 568 mil empregos

Desde o início da crise, País perde vagas na indústria por conta da queda nas exportaç&otild...

Veja mais
Inflação é desafio com taxas de juros menores

Índice de preços em BH e IPC-S acumulam alta de mais de 7% em 12 meses. Para especialistas, corte de 0,5 p...

Veja mais
Índice de confiança do comércio tem alta de 1,6%

Com emprego e renda em expansão, setor mantém humor positivo, mesmo com a perspectiva de desaquecimento. ...

Veja mais