A inflação em alta não deve comprometer as vendas do varejo neste segundo semestre. Essa é a avaliação dos economistas consultados pelo Valor, que estimam expansão do setor até o fim do ano, refletindo as condições favoráveis de emprego e renda no país.
Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os resultados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) referentes a julho. As estimativas apontam para elevação entre 1% e 1,5% no volume de vendas do varejo restrito na comparação com o mês anterior, o que representa forte aceleração em relação à alta de 0,2% de junho.
A demanda, segundo Alexandre Andrade, economista da consultoria Tendências, deverá ser mais intensa no segmento de supermercados, que é bastante sensível às variações do rendimento da população.
Tal movimento pode ser percebido pelos números da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que mostram que entre junho e julho o setor contabilizou crescimento de 6,24%. "A demanda por bens não duráveis está crescendo, por isso os preços estão subindo. Se houver muita pressão em um determinado produto, o consumidor pode migrar, mas não deixará de consumir", afirma Andrade.
Já em relação aos bens duráveis, o cenário é um pouco distinto. Como o comércio desses produtos está intimamente ligado ao crédito, a expectativa é de que o crescimento seja menos intenso. "O aumento dos juros e a redução dos prazos de financiamento devem influenciar a demanda", prevê Andrade.
Em alguns casos, comenta o economista do BES Investimento, Flávio Serrano, é esperada até retração. Pelos seus cálculos, o varejo ampliado (que inclui os setores de veículos, autopeças e materiais de construção) deve ter retração de 0,7% entre junho e julho, enquanto sua previsão para o varejo restrito é de crescimento de 1,5% no mesmo período. "A economia está muito heterogênea. As medidas lançadas pelo governo estão influenciando apenas segmentos específicos", avalia.
Apesar do comportamento contraditório, diante dos reajustes reais nos salários esperados para este segundo semestre e do pagamento do 13º salário mínimo, os economistas estimam que até o fim do ano as vendas do comércio varejista devem continuar em expansão, fechando o ano com crescimento entre 6% e 6,5%. "As festas de fim de ano também devem garantir movimento nas lojas", lembra o economista da corretora Concórdia, Flávio Combat.
Com isso, a expectativa é de que o comércio continue traçando trajetória diversa da apresentada pela indústria, que há meses dá sinais de enfraquecimento. "A indústria está sofrendo por falta de demanda global. Os setores voltados para o mercado interno vão bem, enquanto os que dependem do setor externo, vão mal. Por isso há esse descolamento entre indústria e comércio", diz Serrano.
Veículo: Valor Econômico