O real se desvalorizou ontem pelo sexto dia consecutivo, caiu 4,27% ante o dólar em setembro e zerou as perdas acumuladas no ano. A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 1,661, alta de 0,18%. No curto prazo, segundo economistas, o real deve continuar perdendo valor, podendo chegar a uma cotação entre R$ 1,70 e R$ 1,75 até outubro. A mudança não auxilia a queda da inflação num momento em que o Banco Central, de acordo com a ata do Comitê de Política Monetária, espera um "viés deflacionário" da piora do cenário externo e procura evitar que a variação dos preços estoure o teto da meta de 6,5% em 2011.
"A dinâmica do mercado mudou", diz Tony Volpon, estrategista da Nomura Securities. Até agosto, segundo ele, o real respondia fortemente às oscilações dos preços das commodities. Dois novos elementos teriam mudado recentemente a percepção dos investidores. O primeiro foi a taxação das variações nas posições no mercado de derivativos, que sinalizou que o governo se dispôs a intervir de maneira relevante no câmbio. O segundo, a queda "brusca e inesperada da Selic", que reduziu a atratividade das operações de "carry trade".
Os investidores internacionais, que apostavam na valorização do real (vendidos) ao longo de todo o ano, passaram para o outro lado no começo da semana e estão comprados em dólar futuro em pouco menos de US$ 500 milhões, pelos dados da BM&F do dia 6 de setembro. Sua exposição total, levando em conta os contratos de cupom cambial (juro em dólar no Brasil) ainda é vendida em cerca de US$ 14 bilhões, mas a direção mudou, diz Maurício Molan, economista do Santander, assim como mudou a do dólar no mercado internacional. Ele se valorizou diante de quase todas as moedas e a deterioração do cenário na zona do euro contribuiu para isso.
Relatório do Bank of America Merrill Lynch aponta que, "dependendo de quanto as taxas de juros caiam, o real poderá mostrar alguma fraqueza nos próximos meses".
Veículo: Valor Econômico